30º Domingo do TComum – 27-10-2019

24/10/2019

A gratuidade da salvação – Lc 18,9-14  – O Evangelho coloca o Mestre ainda no “caminho de Jerusalém” e nos oferece  uma catequese  provocativa sobre o “Reino”. Desta vez Jesus propõe uma parábola “para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros”. Os protagonistas da história são um fariseu e um publicano. Os “fariseus” formavam um dos grupos de maior impacto na sociedade do tempo de Jesus. Eram os defensores da Lei nas mínimas prescrições. Só assim o Povo chegaria a ser santo e o Messias poderia vir trazer a salvação a Israel. Tratava-se de um grupo sério, verdadeiramente empenhado na santificação do Povo de Deus. No entanto, o seu modo de ser e pensar   é muito criticado por Jesus. Ao afirmarem a superioridade da Lei, desprezavam muitas vezes  as pessoas e criavam um sentimento constante de culpa que oprimia as consciências.  Além disso, direta ou indiretamente, negavam o verdadeiro Deus de Jesus Cristo.  Para eles a salvação era recompensa pelo fiel cumprimento da Lei. Não havia espaço para a gratuidade e a misericórdia  divinas. Consideravam-se merecedores da salvação e desprezavam os  “pecadores”, ou seja, os pobres, os doentes, os estrangeiros, os que que não podiam cumprir todas as prescrições das Lei. Os “publicanos” estavam ligados à cobrança dos impostos, ao serviço das forças romanas de ocupação. Tinham fama de utilizar o seu cargo para enriquecer de modo imoral. Por vezes esta fama correspondia à realidade de alguns. Eram portadores de impureza permanente e não podiam nem fazer penitência para alcançar a salvação.   Lucas põe em confronto dois tipos de atitude  diante de Deus. O fariseu é o modelo de um homem irrepreensível face à Lei, que cumpre todas as regras e leva uma vida íntegra. Ele está consciente de que ninguém o pode acusar de cometer ações injustas, nem contra Deus, nem contra os irmãos. Parece que ele fala a verdade e está feliz consigo mesmo. E compara-se  com o publicano, que também está no Templo. O fariseu  tem consciência da sua superioridade moral e religiosa, sobretudo em relação aos pecadores notórios, como é o caso deste publicano, um modelo do pecador. Explora os pobres, pratica injustiças, trafica com a miséria e não cumpre as obras da Lei. Ele tem consciência da sua indignidade, pois a sua oração consiste apenas em pedir: “meu Deus, tende compaixão de mim que sou pecador”.  Jesus afirma que o publicano fez a experiência do Deus de Jesus e o fariseu não. O problema do fariseu é que pensa ganhar a salvação com o seu próprio esforço. Para ele, a salvação não é um dom de Deus, mas uma conquista pessoal. Se levar uma vida irrepreensível, Deus não terá outro remédio senão salvá-lo. Ele está convencido de que Deus lhe deve a salvação pelo seu bom comportamento.  Ele está cheio de autossuficiência e esta autossuficiência leva-o, também, ao desprezo  daqueles que não são como ele.  Vive a religião dos “méritos”. O publicano, ao contrário, apoia-se apenas em Deus e não nos seus méritos que, aliás, não existem. Ele apresenta-se diante de Deus de mãos vazias e sem quaisquer pretensões; entrega-se apenas nas mãos de Deus e pede-Lhe compaixão… E Deus “justifica-o” – isto é, derrama sobre ele a sua graça e salva-o – precisamente porque ele não tem o coração cheio de autossuficiência e está disposto a aceitar a salvação que Deus quer oferecer a todos. A salvação é ato gratuito de Deus, amor e misericórdia. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ