Primeiro Domingo da Quaresma – 10/03

07/03/2019

Tentação: qual o projeto de vida a assumir– Lc 4,1-13 – O primeiro domingo da quaresma de 2019, ano em que a CF traz como tema: Fraternidade e Políticas Públicas  e o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27), o evangelho das tentações de Jesus não poderia ser mais oportuno. Estamos até acostumados a ouvir este episódio, ora na versão de Mateus (Mt 4,1-11), ora na de Lucas (Lc 4,1-13, ou ainda a breve síntese de Marcos (Mc 1,12-13). No entanto, certamente não temos refletido suficientemente o que significa o Filho de Deus ser tentado pelo demônio. Isto é possível? Não é ele o filho de Deus, dominador dos demônios? Em tantas passagens evangélicas as multidões se admiram que até os espíritos lhe obedecem. Jesus manifesta seu poder absoluto sobre os demônios. Os evangelhos informam que Jesus foi tentado pelo demônio no início da sua missão. Qual a importância desta narração presente nos três evangelhos sinóticos? Parece que os primeiros cristão se interessavam muito pela experiência das “tentações’ de Jesus. Não queriam esquecer os conflitos sofridos por Jesus para ser fiel à sua missão, para assumir o Projeto de vida revelado pelo Pai. Isto os ajudava  também a venceram as suas tentações, a de assumir projeto oposto ao que Jesus anunciava.  Jesus está no “deserto” onde se pode ouvir a voz de Deus, a força divina, mas também as forças obscuras do ódio, da violência, de tudo o que nos afasta dele. A voz do diabo pode nos confundir muito, pois ela vem disfarçada de “Palavra de Deus”. O demônio tenta Jesus por meio da própria palavra divina. Se bem olharmos o conteúdo das tentações, percebemos que elas não são de ordem moral, nem tentações de nível pessoal, individual. São tentações de ordem política, econômica e social. A primeira delas trata da fome. Para resolver o problema da fome, “transformar pedras em pão” é a proposta do diabo. Para Jesus, não é solução. “Não só de pão vive o homem”. Para superar a fome se faz necessário que se estabeleça o direito e a justiça, o respeito, a fraternidade e solidariedade. Se faz necessário “Fraternidade e Políticas Públicas”, e não um populismo passageiro,  que a transformação da pedra em pão traria para Jesus. A segunda tentação é ainda mais atual. Uma visão dos reinos deste mundo. O demônio não revela a realidade do poder, dos conflitos, guerras e injustiças. Basta ajoelhar-se diante do diabo, que tudo será seu. E Jesus teria o título de poderoso conforme os poderes deste mundo.  Jesus reage fortemente e declara que Deus é o senhor do mundo. Adoração só a Ele, cujo reino é de paz, justiça e fraternidade. “Serás libertado pelo direito e pela justiça”, é o lema da CF deste ano.  A terceira tentação se dá no espaço mais religioso. Do alto do templo o diabo sugere que seguindo suas sugestões, Jesus terá toda a segurança em Deus. “Deus acima de tudo e Brasil acima de todos” é nova versão deste terceira tentação.  No atual contexto social e político do Brasil, o Evangelho das tentações de Jesus é um verdadeiro espelho no qual podemos espelhar a atual realidade. As maiores tentações que assolam as mentes humanas hoje  não são as de ordem moral, ou tentações individuais. São de ordem bem mais abrangente. Qual o projeto de nação que vamos assumir? Quando cristãos são capazes de celebrar, de forma vingativa, a morte de uma criança, o demônio já se declara vitorioso, pois os monstros demoníacos reinam vitoriosamente. A tentação é sempre uma “testação” da qualidade de nossas opções de vida, uma revelação de nossas opções de vida.. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ