6º Domingo do Tempo Comum – 16/02/2025

13/02/2025

Mudança de foco – Lc 6,17.20-26 – Já caminhamos para o sexto domingo do Tempo Comum e prosseguimos com a leitura do Evangelho de Lucas, um evangelho com foco diferente dos demais. Como já se publicou em uma obra, em Lucas, “o contrário é o lado certo”. Mais uma vez, neste domingo, Lucas nos ajuda a perceber que a lógica de Deus é contrária à lógica humana. Isto Jeremias já sinalizava na primeira leitura, ao mostrar que “confiar na carne” é distanciar o coração de Deus. Contextualizando um pouco o texto do Evangelho deste domingo, vemos que depois de Jesus apresentar o seu “programa” pastoral na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,18-19) e ser rejeitado pelos seus conterrâneos, ele andou pela Galileia anunciando a chegada do Reino de Deus. Os líderes judaicos, especialmente os fariseus e doutores da lei, logo assumiram uma atitude crítica face ao projeto de Jesus. Muitas outras pessoas, no entanto, escutavam Jesus com entusiasmo e todos os dias o procuravam. Foi o que vimos no Evangelho do 5º domingo. Jesus fora rejeitado pelos da Sinagoga, mas a multidão de anônimos, excluídos da religião oficial, impuros, doentes se apinharam na beira do mar para escutá-lo, a tal ponto que teve que se afastar e se colocar no barco para anunciar o Reino. Indo para “águas mais profundas”, os discípulos se tornaram “pescadores de homens”, ou seja, promotores da vida e da salvação. Peixe não vive fora da água. Pescar homens é promover a vida e a dignidade. Jesus escolheu Doze para a grande missão da “pescaria” no mundo. Desceu da montanha e pronunciou uma longa “instrução”, que ficou conhecida como o “sermão da planície”. O Evangelho que a liturgia deste domingo nos propõe apresenta-nos o início dessa “instrução”: as “bem-aventuranças”. Mateus também nos apresenta um discurso de Jesus que começa com as “bem-aventuranças”, mas a versão é diferente. Lucas nos traz quatro “bem-aventuranças” e quatro “maldições”. Bem-aventurados os “pobres”, “os que têm fome”, “os que choram”, “os perseguidos”. Os pobres, ou seja, os desprotegidos, explorados, os pequenos sem voz e vez, os que são vítimas da injustiça, os que são despojados dos seus direitos e da sua dignidade pela arbitrariedade dos grandes. “Os que têm fome”: aqueles que não têm o pão de cada dia para si próprios e para as suas famílias; os que não têm lugar à mesa do banquete onde os seus irmãos saciam a sua fome de vida. “Os que choram”, aqueles que vivem mergulhados numa dor sem fim: doentes incuráveis, as vítimas de todas as injustiças, os que são magoados pelo egoísmo e pela maldade dos seus irmãos. Os “perseguidos são as vítimas da intolerância e do desprezo dos seus irmãos por causa das suas convicções e pela forma acolhem o Evangelho da verdade.  Do lado oposto estão os “ricos”, os que tem abundância e colocam suas seguranças nos bens materiais. Não precisam de Deus. Os “saciados, tem tudo com fartura; esquecem de Deus e dos irmãos. Os que “riem”, os que vivem em festa e não se sensibilizam com as lágrimas alheias. Os “elogiados”, aqueles que fazem tudo para serem “populares”, aqueles que trocam os valores consistentes e duradouros por uns minutos de fama e de aplausos. “Ai de vós”,  diz-lhes Jesus. Como vemos, no discurso das “bem-aventuranças” em Lucas, Jesus inverte completamente a escala de valores que predomina no nosso mundo. Uma radical mudança de foco. A lógica de Deus está infinitamente distante da lógica que comanda o mundo e os homens. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ