5º Domingo da quaresma
“Nem Eu te condeno”- Jo 8,1-11 – Estamos no quinto domingo da quaresma e o apelo à conversão vai se intensificando. Este apelo não vem carregado de razões morais ou negativas, como se costuma pensar e cobrar. A utopia de uma vida renovada, de um horizonte de vida livre e feliz é a motivação fundamental deste apelo. Abandonar a mentalidade mundana e assumir o divino em nós é a conversão necessária. Este apelo perpassa as leituras da Liturgia deste domingo. Isaías é o profeta da esperança. Anuncia que os exilados serão libertados e o próprio Deus os conduzirá para sua terra. Na segunda leitura, o testemunho de Paulo em sua carta aos Coríntios nos incentiva a trilharmos o mesmo caminho da ousadia, a de tudo deixar para alcançar Jesus Cristo. O Evangelho é mais uma página que desconstrói muitas das nossas certezas já cristalizadas. Trata-se do relato da mulher apanhada em adultério. Segundo os estudiosos, este relato não pertencia inicialmente ao Evangelho de João, pois a linguagem e o gênero literário diferem muito do estilo do 4º evangelho. A narrartiva teria sido introduzida mais tarde, com o objetivo de sublinhar a misericórdia de Jesus, teologia tão fortemente presente no Evangelho de Lucas. Santo Agostinho, Santo Ambrósio e São Jerónimo são os defensores da inserção deste relato no 4º Evangelho. É importante considerar que não se trata de Maria Madalena, como tanto se prega nas homilias e catequeses. Se fosse Maria Madalena, o evangelista certamente diria o nome. É uma mulher anônima. Olhemos o texto mais de perto: o cenário é o Templo de Jerusalém. Jesus tinha passado a noite no Monte das Oliveiras; pela manhã, foi novamente ao Templo, onde costumava ensinar a todos aqueles que iam ao seu encontro. Neste contexto, os escribas e os fariseus apresentam a Jesus uma mulher, sem nome, que teria sido “surpreendida em flagrante adultério”. Lembram a Jesus o que a Lei determina para estes casos. Apenas querem saber a opinião do mestre. De fato a lei, tanto no livro do Levítico como no Deuteronômio, determinava que: “se um homem cometer adultério com a mulher do seu próximo, o homem adúltero e a mulher adúltera serão punidos com a morte”. Ocorre que os acusadores não consideram que a Lei prescreve que tanto o homem quanto a mulher devem ser punidos. E há ainda atenuantes se o flagrante ocorreu na cidade ou se no campo. Aqui trazem a mulher e a colocam diante de Jesus que está no Templo ensinando. Querem apenas buscar uma forma de comprometer Jesus.. Mas há mais um agravante: trata-se de mulher “impura”; logo não poderia ser introduzida no templo. Um cenário bem complexo para Jesus opinar. Jesus fica em silêncio. “Inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão”. Muitas especulações se fazem a respeito do gesto de Jesus. Há quem afirme que escrevia os pecados dos acusadores; outros dizem que estaria escrevendo a sentença ou coisa semelhante. O mais provável é que Jesus fez uma pausa para levar os acusadores a “tomarem consciência” da gravidade de suas atitudes e da manipulação da Lei. Como são “duros de coração”, continuam insistindo. Jesus nada responde, continua escrevendo no chão. Depois levanta-se e pronuncia a sentença: “Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra”. Os acusadores não aproveitaram a oportunidade de reconhecerem que todos somos marcados pelo pecado, pelas vulnerabilidades. Jesus continuou no seu silêncio estratégico e os mais velhos foram os primeiros a se retirarem. Então Jesus ergue os olhos para a mulher, para todas as mulheres vítimas do machismo, da violência, da marginalização, que assolava a Palestina de então e destrói a sociedade atual. Escribas e fariseus não abrem espaço para a acolhida, a compaixão, a misericórdia. Insistem em sua hipocrisia, mesmo que manipulem as leis em seu favor. Jesus veio mostrar-nos o rosto e o coração de um Deus que ama incondicionalmente. “Nem Eu te condeno” – Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ