Saboreando a Palavra – 22º Domingo do TC – Dia 01/09/2019
Um banquete subversivo – Lc 14,1. 7-14 – O Evangelho deste 22º domingo do TC, a bem da verdade, traz uma postura “subversiva” a respeito de certas convenções e certezas. A narrativa coloca-nos num ambiente de banquete na casa de um fariseu. O cenário é pretexto para Jesus falar do Banquete do Reino e evidenciar sua oposição a uma série de práticas e convenções rigidamente estabelecidas. Continuamos com Jesus a “caminho de Jerusalém”. Como que numa “pausa”, o encontramos à mesa, na casa de um dos chefes dos fariseus, em dia de sábado. Deve tratar-se da refeição solene de sábado que se tomava em torno do meio-dia, ao voltar da sinagoga. Durante a refeição, certamente continuavam a discutir sobre as leituras e as interpretações feitas na sinagoga. Lucas é o único evangelista que mostra os fariseus tão próximos de Jesus. Até o convidam para casa e se sentam à mesa com Ele (cf. Lc 7,36; 11,37). O “banquete” é, no mundo semita, o espaço do encontro fraterno, onde os convivas partilham do mesmo alimento e estabelecem laços de proximidade, de familiaridade, de irmandade. Também em outras culturas o banquete caracteriza a identidade de um povo. Quase sempre revestido de um código de protocolos e etiquetas que regulam, inclusive, a vida ética e social. Romper com o está estabelecido gera conflitos e desconforto geral. As pessoas não sabem se mover fora dos padrões estabelecidos. Quando o Papa Francisco se negou a participar de um banquete luxuoso no Vaticano, evento que aconteceu durante a canonização dos papas João XXIII e João Paulo II em prédio administrativo do Estado papal, muita gente criticou o Papa. “Banquete é banquete e deve ser respeitado” diziam. Para Francisco, a Igreja deve ser essa comunidade onde se torna realidade a lógica do “Reino” e onde se cultivam a humildade, a simplicidade, o amor gratuito e desinteressado. Jesus aparece, muitas vezes, envolvido em banquetes, não porque era “comilão e beberrão” (cf. Mt 11,19), mas porque, ao ser sinal de comunhão, de encontro, de familiaridade, o banquete anuncia a realidade do “Reino”. Olhando mais de perto o texto, pode-se identificar duas partes e uma introdução: O v1 situa o cenário. Segue a primeira parte (vs 7-11), que aborda a questão da humildade, da discrição, da superação da autorreferencialidade. A segunda parte (vs 12 -14) trata da gratuidade e do amor desinteressado. A conexão entre as duas partes está nas atitudes fundamentais para quem quiser participar do banquete do Reino de Deus. O “Reino” é um espaço de irmandade, de fraternidade, de comunhão, de partilha e de serviço que exclui qualquer atitude de superioridade, de orgulho, de ambição, de domínio sobre os outros. Jesus, ele mesmo, na “ceia de despedida”, lavou os pés dos discípulos e os constituiu em comunidade de amor e serviço. Ele não deixou de ser “mestre e Senhor”, mas colocou um avental. Depois de lavar os pés, recolocou seu manto (símbolo da sua autoridade), mas não tirou o avental (símbolo do serviço). A ruptura “escandalosa” e “subversiva” de Jesus está na proposta de não convidar para o banquete apenas os amigos, irmãos, parentes ricos, (prática dos fariseus de ontem e de hoje), que retribuem convites dentro dos mesmos padrões, mas convidar “os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos” (todos considerados pecadores e maldiçoados por Deus, que não retribuem convites). Jesus, a partir do banquete, traça os contornos do Reino. Denuncia a sociedade agressiva e competitiva, excludente e injusta. O reino de Deus é um banquete que subverte a ordem das coisas deste mundo. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ