4º Domingo do Advento
“Faça-se em mim segundo tua palavra” – Lc 1,26-38 – O texto de Lucas que nos é proposto neste quarto domingo do advento pertence ao chamado “Evangelho da Infância”. Os “Evangelhos da Infância de Jesus” são escritos num gênero literário próprio, muito usado pelos mestres judeus, recorrendo a personagens do passado, atualizados no presente. Lucas recorre a este gênero literário para nos apresentar o mistério de Jesus. Trata-se de uma literatura “querigmática”, ou seja, de anúncio de salvação. Não visa informar sobre acontecimentos históricos concretos, mas quer anunciar que Jesus é o Messias, o Salvador do mundo. Diversos personagens presentes no relato correspondem a figuras do Antigo Testamento, e servem como um espelho para visualizar a Boa Nova do Reino que está em curso. Olhando o Evangelho mais de perto, vemos que o cenário do relato é uma aldeia da Galileia, chamada Nazaré. A Galileia era considerada, pelos judeus da Judeia, uma terra “estranha”, onde a religião judaica era muito influenciada pelos costumes e tradições pagãs. Era a “Galileia das nações”. Daí se compreende a sentença de mestres judeus de Jerusalém: “da Galileia não pode vir nada de bom”. Se a província da Galileia já era desprezada, a aldeia de Nazaré muito mais; era uma “ilustre desconhecida”. Pelo que se deduz, era uma aldeia pobre e ignorada, fora dos caminhos de Deus e da salvação. Só isto já nos aponta para o grande ‘querigma” do relato. Na época, Roma, onde vivia o Imperador, era o ‘centro do mundo’. De lá vinham as ordens que determinavam a vida do povo. Com Jesus, a desconhecida Nazaré se torna “centro do mundo”. A Salvação do mundo vem de Nazaré, a periferia das periferias. Maria, figura central de todo o relato, é de Nazaré. Dela se diz que era “uma virgem desposada com um homem chamado José”. Muito já se tratou sobre o casamento hebraico. Havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro; só numa segunda surgia o compromisso definitivo. Maria e José estavam comprometidos, mas não tinham celebrado o matrimônio. Voltando ao Evangelho, depois das informações iniciais, temos o diálogo entre o Anjo e Maria, um diálogo com ressonâncias vétero-testamentárias, ligados a contextos de eleição, de vocação e de missão. O termo “ave”, com que o anjo saúda Maria, é mais do que uma saudação; é eco dos anúncios de salvação à “filha de Sião”, uma figura fraca e delicada que representa o Povo de Israel. A escolha divina segue sempre o caminho da fraqueza, da pequenez. Maria é “cheia de graça”, cheia de graça, não como mérito pessoal, mas alguém que foi plenificada pelo amor de Deus. O diálogo prossegue com questões de Maria e esclarecimentos dados pelo Anjo . Em síntese, estamos diante do anúncio da salvação que necessita do “Sim” de Maria. Céus e terra dependem do sim de uma pobre jovem. O relato termina com a resposta final de Maria: “eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. “E o anjo retirou-se de junto dela”. A missão do anjo foi cumprida, pode voltar ao coro celeste, onde reina a paz e a alegria pelo sim da “serva” de Nazaré. Maria se entrega ao agir de Deus e, de hora em diante, se torna morada do divino que se torna o “Senhor” da vida de Maria.”Faça” o que for de tua vontade. “Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ