4º Domingo do Advento

15/12/2022

“Apareceu-lhe, num sonho, o Anjo do Senhor” – Mt 1,18-24 – O 4º domingo do Advento nos permite uma maior contemplação do mistério da Encarnação, cuja grande manifestação celebramos no Natal. Jesus é o “Deus-conosco” que veio ao encontro da humanidade para oferecer a salvação e trazer vida nova. Em rica linguagem de sinais, as leituras nos convidam a um profundo silêncio contemplativo dos divinos mistérios que atuam na história e nos revelam que Deus vem ao nosso encontro.

O Evangelho que nos é proposto neste domingo tem como figura central São José, o homem dos sonhos e do silêncio, do trabalho e da grandeza humana.

Do ponto de vista literário, o relato pertence ao bloco das “Narrativas da Infância”, na versão de Mateus, um gênero literário especial. Não se trata de um relato jornalístico e histórico de acontecimentos, mas é, sobretudo, uma forma de proclamar que Jesus é o Messias, que Ele vem de Deus, que Ele é o “Deus conosco”.

Segundo a narração de Mateus, José apercebeu-se que Maria estava grávida, durante o tempo dos esponsais… Como sabia não ser o pai do bebê que estava para chegar, resolveu abandonar Maria, em segredo; mas um anjo do Senhor apareceu-lhe em sonhos e esclareceu o mistério: “Aquele que vai nascer é fruto do Espírito Santo” (cf.1,19-20),.

O senso comum nos diria que devemos nos orientar pela razão e não nos deixar levar pela ilusão dos sonhos. No NT, por quatro vezes, se diz que um anjo aparece a José e o convence a fazer exatamente o contrário daquilo que estava planejando. Na primeira vez ele iria “abandonar Maria secretamente”;  isto faria recair sobre ele a acusação de traição e abandono de mulher grávida. Então o anjo, em sonho, lhe diz: não temas receber Maria, tua esposa… Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa.

 Prosseguindo no itinerário de José, em outras três passagens do Evangelho, temos que o Anjo do Senhor aparece em sonhos a José e diz: “Vá para o Egito” (Mt 2,13). José poderia reagir dizendo que tinha seu trabalho, encomendas a entregar, mulher e filho pequeno para cuidar. Mas obedece e vai. Depois: “Levanta-te e volta para Israel” (2,20). “Logo agora que consegui me estabelecer aqui e tenho uns serviços a fazer”. Novamente obedece e vai. Mais uma vez o sono é povoado por sonhos: “Não vá para a Judeia…” (2,22 ). “Avisado em sonhos por divina revelação, foi para as regiões da Galileia.  E chegou e habitou numa cidade chamada Nazaré (2,23). “Queria tanto ir para junto de minha família que, certamente, me ajudaria a me refazer, mas ir para a desconhecida aldeia de Nazaré, lugar pequeno e sem futuro”. Vai e vive em Nazaré …Ao contrário do senso natural, José é o homem que segue seus sonhos, obedece às inspirações divinas.

O Reino de Deus, a utopia de um mundo de irmãos necessita de sonhadores, capazes de abandonar seus planos e interesses pessoais e mergulhar na mística do Reino. Sem dúvida, hoje faltam sonhadores e sonhadoras para que a justiça e a paz reinem entre nós.

A festa do Natal deveria ser esta recordação anual da necessidade de sonhadores que buscam a paz, a fraternidade, a partilha. Sonhadores do Reino. Mas, com frequência, o Natal é a festa pagã do consumismo, dos presentes obrigatórios, das refeições melhoradas, das tradições que têm de ser respeitadas, mesmo quando não significam mais nada…

A figura de José também nos interpela e nos questiona neste tempo de Advento. Ele se deixa envolver nos planos de Deus, mesmo que pareçam misteriosos e inacessíveis, mas que, numa obediência total a Deus, tudo aceita.

Nós, Irmãs Franciscanas de São José, nós Igreja que tem São José como patrono, até que ponto deixamos Deus desorganizar nossos projetos para sermos fiéis ao que Ele nos pede? Ainda somos sonhadores do Reino? Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ