4º Domingo da Páscoa – Domingo do Bom Pastor
Conhecer e dar a vida – Jo 10,11-18 – O 4º Domingo da Páscoa é o “Domingo do Bom Pastor”. Em todos os anos a liturgia propõe um trecho do capítulo 10 do Evangelho de João. Trata-se de uma narrativa que fala da missão de Jesus a partir da imagem do pastor. Situada em cenário pastoril, a narrativa pode deixar de ser bem “saboreada” em nossos ambientes urbanos e em outros espaços geográficos. Quem acompanha o cotidiano da vida das ovelhas e de seus pastores, certamente terá maior sensibilidade para mergulhar na beleza e profundidade do relato.
A imagem do “bom pastor” não é original no 4º Evangelho. Trata-se de um discurso simbólico, construído com recursos literários do Antigo Testamento, em especial de Ezequiel 34, quando o profeta fala aos exilados da Babilônia. As imagens são muito fortes e vale uma leitura atenta. Ezequiel denuncia os líderes de Israel, cuja missão era a do “pastoreio” do povo, mas que foram, ao longo da história, maus “pastores”. Conduziram o povo por caminhos de desgraça e de morte. Um texto de extrema atualidade em muitas nações.
O contexto do “discurso do bom pastor” (cf. Jo 10) é de denúncias e conflitos. Ler fora de seu contexto leva a uma leitura superficial, sem a devida compreensão da mensagem. Pode-se ficar nas imagens de outros textos bíblicos, que focalizam a ternura do pastor (cf Sl 23;Is 40,11, etc). O “discurso” vem logo após o relato da cura do cego de nascença (cf Jo 9,1-41), o sexto sinal realizado por Jesus. Literariamente, situa-se entre duas festas judaicas: a das Tendas (7,2) e a da Dedicação (10,22). Ambas eram muito populares e as lideranças se faziam presentes segundo seus interesses. Sabemos bem como isto acontece com nossas classes políticas. É no ambiente de festa que se situa a polêmica entre Jesus e alguns destes líderes judaicos. Eles recém haviam expulsado o cego de nascença, que abraçara a verdadeira luz (cf Jo 9,34. 38). Era esta a sua forma de “pastorear o povo”. Jesus denuncia a sua atuação: são “mercenários, ladrões e salteadores” (Jo 10,1.8.10).
“Eu sou o Bom Pastor”. O “eu sou” se repete diversas vezes em João, certamente um eco do livro do Êxodo, onde o Deus libertador se revela a Moisés como o “EU SOU” (cf Ex 3,14). Jesus confirma sua missão de ser o libertador e salvador. E é o “bom” pastor, o pleno, o maduro, o que “conhece” suas ovelhas e “dá a vida” por elas. Este adjetivo “bom” já é uma denúncia contra os “maus” pastores, os “mercenários”, os que não cuidam das ovelhas quando o “lobo” aparece. O lobo também é um símbolo, símbolo de tudo o que põe em risco a vida das ovelhas. E há tantas pessoas e situações que ameaçam a vida das ovelhas! Em nossos dias, um dos “lobos” pode ser esta pandemia que devora tantas ovelhas. Também os “mercenários”, que eram pastores contratados por dinheiro, ou os atuais eleitos pelo povo, são de uma extrema atualidade. Eles não amam, não conhecem e não dão a vida por suas ovelhas. Só defendem seus interesses pessoais.
O verdadeiro pastor é aquele que cuida para que as ovelhas tenham vida. A sua prioridade é o bem das ovelhas que lhe foram confiadas. Arrisca sua vida, seu prestigio, seus bens em defesa do rebanho. Tem relação pessoal, de intimidade com elas. Conhece cada ovelha e a chama pelo nome (v 16).. Ainda mais: quer reunir as que estão dispersas, as que se perderam ou abandonaram o rebanho, ou e se deixaram iludir pelos mercenários.
O discurso do “bom pastor” precisa ser proclamado e atualizado pelos quatro cantos da terra. De um lado há um “lobo feroz” que está “devorando” muitas ovelhas. Já são milhões que o “lobo coronavírus” devorou. Como outrora, lideranças políticas e econômicas só cuidam de seus interesses pessoais, são “mercenários” que não “defendem as ovelhas” diante dos “ladrões e salteadores”. Por outro lado, há milhares de “bons pastores” que cuidam das ovelhas, nos hospitais, nas residências, nas ruas… “É por isto que o Pai lhes dá amor” (v. 17).
Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ