3º DOMINGO DO TEMPO COMUM
ESTÁ PRÓXIMO O REINO DE DEUS – Mc 1,14-20 – Estamos iniciando a Leitura do Evangelho de Marcos, cujo objetivo principal é revelar que Jesus Cristo é o filho de Deus vivo que anuncia o Reino de Deus (Cf Mc 1,1; 15,39). A narrativa de Marcos é uma narrativa catequética, na qual, tanto a geografia quanto a cronologia, bem como a estrutura literária estão a serviço da teologia, da revelação de que se trata de um “Evangelho”, ou seja, uma “Boa Noticia” sobre “Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo”. O cenário, no qual o texto se situa, é a Galileia, região em permanente contato com os territórios pagãos e, por isso, considerada pelas autoridades religiosas de Jerusalém como uma terra de onde “não podia vir nada de bom”. Olhemos o relato deste domingo de forma mais atenta. Do ponto de vista literário, o texto está claramente dividido em duas partes: Mc 1,14-15 e Mc 1,16-20. Na primeira, Marcos faz uma espécie de resumo da pregação de Jesus; na segunda, apresenta a comunidade dos discípulos, o grupo modelo do Reino de Deus. Iniciando, como se vê, Marcos, em dois versos, concentra o grande anúncio, colocado na boca de Jesus. Mas antes o evangelista situa o momento do anúncio: “Depois de João ter sido preso”. A prisão de João foi o sinal, o grande “sinal dos tempos” se diria hoje, para Jesus entrar em ação. É como se dissesse: “Basta”! Não dá mais para esperar. O tempo urge. Prenderam o profeta, o anunciador do Messias: “Cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1,15). Um senso de urgência perpassa o relato. Na expressão “cumpriu-se o tempo”, está a ideia do “Kairós”, ou seja, um “evento especial”, um acontecimento pleno de sentido; não se trata de um tempo de relógio.”Cumpriu-se o tempo” de se manifestar a salvação que Jesus trouxe. Está próxima a realidade do “Reino de Deus”. Como se sabe, a esperança de Israel estava centrada na utopia de um mundo novo, de paz e de abundância, preparado por Deus para o seu Povo. A presença e ação de Jesus acenderam a chama da esperança. Os evangelhos nunca definem o que vem a ser este “Reino de Deus”; também Jesus nunca conceitua esta realidade misteriosa. Vai explicando do que se trata por meio de parábolas. Certas afirmações, transmitidas pelos evangelhos sinóticos, mostram que Ele tinha consciência de estar pessoalmente ligado ao Reino e de que a chegada do Reino dependia de seu ensinamento e de sua ação. Começa a construção desse “Reino” convocando para a “conversão” e para o acolhimento da Boa Nova. “Converter-se” significa mudar de mentalidade e de conduta, assumir novos valores de vida, renunciar ao egoísmo, à autossuficiência. Significa aderir à pessoa e ao projeto de Jesus. Após o anúncio inicial, dito com tanta clareza e decisão, o relato nos informa que Jesus constituiu a comunidade do Reino, feita de discípulos, de seguidores de Jesus. Na redação de Marcos, os primeiros a assumirem esta nova forma de vida foram Pedro e André, Tiago e João. São trabalhadores, pessoas sensíveis, pescadores de profissão. Certamente pessoas com prontidão para seguir alguém que lhes mostrasse autoridade e verdade. Jesus acendeu neles a chama do ardor de suas esperas. Largam “tudo” e seguem “imediatamente” a Jesus. A urgência do Reino se manifesta também nesta forma decidida e radical que estes discípulos respondem a Jesus. A realidade do Reino de Deus continua sendo a utopia que perpassa os corações de toda a humanidade. Outrora, a prisão do Batista foi o sinal de que era hora de entrar em ação de forma decidida. Os sinais hoje são incontáveis. Qual o apelo do Evangelho deste domingo?
Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ