3º Domingo do Tempo Comum

20/01/2022

O Espírito do Senhor está sobre mim – Lc 1,1-4;4,14-21 – A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa vida e missão, a Palavra de Deus. Essa Palavra não é uma doutrina abstracta, uma teoria para intelectuais, mas anúncio concreto de uma proposta de vida: o Reino de Deus. A Palavra é o próprio Jesus que se faz pessoa e revela o plano do Pai.

O Evangelho deste domingo, ano C, de Lucas, é constituído por dois textos diferentes. No primeiro (1,1-4), temos um prólogo literário, onde Lucas apresenta o seu trabalho de investigação cuidadosa dos “fatos que se realizaram entre nós”, a fim de que os fiéis, na sua maioria de origem grega,  possam verificar “a solidez da doutrina em que foram instruídos”. Estamos nos anos 80, quando a fé cristã começa a sofrer heresias e desvios. É preciso comprovar a “solidez dos ensinamentos”, através do testemunho legítimo, que é a tradição transmitida pelos apóstolos.

Na segunda parte (4,14-21), temos o início da pregação de Jesus, que Lucas coloca em Nazaré. O cenário é o culto sabático na sinagoga, culto este que consistia em orações e leituras da Lei e dos Profetas, com o respectivo comentário. Os leitores eram membros instruídos da comunidade ou visitantes conhecidos pelo seu saber na explicação da Palavra de Deus, como no caso de Jesus.

O ponto de partida é a leitura do texto de Is 61,1-2, que Jesus escolhe propositadamente. Nesse texto o profeta consola os exilados retornados da Babilônia. O profeta se reconhece como um “ungido do Senhor”, que possui o Espírito de Deus. A sua missão consiste em gritar aos pobres e oprimidos, aos presos e encarcerados, que a Palavra de Deus está se realizando na vida concreta do povo. Isto se evidencia na atualização que Jesus faz desta profecia e que gera grande impacto.”Hoje se cumpre as Escrituras que acabais de ouvir”. Sua família e seus conterrâneos não aceitam tal palavra. Trata-se de um verdadeiro projeto de vida e missão que Jesus anuncia. Hoje diríamos, um “programa político” que tem os “pobres, os cativos, os cegos, os oprimidos” como destinatários principais. Também hoje ocorre a rejeição de tal “programa”.

Jesus, na sinagoga de Nazaré, centro religioso da época, de forma bem nítida, manifesta a consciência de que foi investido do Espírito de Deus e enviado para combater tudo o que rouba a vida e a dignidade das pessoas. Parece que a nossa civilização, também a própria Igreja e a Vida Religiosa, após vinte e um séculos, não aprendeu a “ouvir a Palavra” de Deus e continua reproduzindo formas opressoras e destruidoras. Ainda mais: por vezes se busca levar os profetas atuais “ao alto monte a fim de precipitá-los de lá”. Nestes dias estamos rezando pela saúde do Bispo Emérito do Xingu, Brasil, Dom Erwin Krautler . Um grande profeta de nosso tempo e que, na década de 80, sofreu um atentado no qual morreu um sacerdote que estava com ele. Sua recuperação custou um longo período. Mas não abandonou seu povo, sua profecia, sua missão. Oxalá muitos outros, “passando pelo meio do povo, sigam seu caminho. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ