3º Domingo do Advento
“Alegrai-vos, pois a libertação está para chegar”… “Os cegos vêem” – Mt 11, 2-11 – O terceiro domingo do Advento é, tradicionalmente, o “domingo da alegria”. As leituras convidam a ficar alegres, pois a libertação está próxima. Os sinais da ação messiânica de Jesus já estão se realizando. A primeira leitura, de Isaías, torna presente a promessa de salvação e, de forma poética, anuncia a chegada da libertação como um jardim no deserto. A segunda leitura, da Epistola de Tiago, convida os fiéis a terem esperança, mesmo em meio às muitas dificuldades. O Evangelho descreve a realização de tudo aquilo que esperamos no advento: “Ide contar a João o que vedes e ouvis: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres”.
No terceiro domingo do Advento mais uma vez, João Batista é o personagem em evidência. Ele está preso por ordem do de Herodes Antipas, a quem havia criticado por viver maritalmente com a cunhada (cf. Mt 14,1-5). O precursor de Jesus é um prisioneiro e aquele a quem anunciara como libertador não vem libertá-lo. É provável que uma profunda crise se abata sobre o Batista. Jesus é mesmo “aquele que está para vir”? Além disto, a pergunta não é sem sentido. João, como vimos no domingo anterior, anunciara um Messias que viria lançar fogo à terra, castigar os maus e os pecadores, dar início ao “juízo de Deus” (cf. Mt 3,11-12). Ao contrário, Jesus aproximou-se dos pecadores, dos excluídos e impuros, estendeu-lhes a mão, mostrou-lhes o amor de Deus, ofereceu-lhes a salvação (cf. Mt 8-9). João e os seus seguidores estão desconcertados: seria Jesus o Messias esperado? Este não corresponde ao que imaginavam. Seu paradigma messiânico é outro. Para eles, o Messias seria alguém com ação mais decidida, mais lógica e mais justiceira. Um Messias revelador da misericórdia do Pai não corresponde aos seus paradigmas, às suas expectativas.
No contexto da realidade do Evangelho de Mateus, escrito para uma comunidade de judeu-cristãos, o ensinamento é de suma importância. O evangelista tem um interesse especial pela figura de João Baptista. Para ele, João é sim o precursor que veio preparar a humanidade para acolher o Salvador do mundo. Como havia muitos judeus que esperavam um Messias “poderoso, guerreiro, político”, que realizaria do “dia do juízo como dia de vingança do nosso Deus”, Mateus destaca a identidade do Messias Salvador que devemos esperar. O Messias é alguém que se aproxima dos pobres da terra e se identifica com eles. Um Messias cuja “vingança” é a Misericórdia. “E bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo”.
Atualizando: a “dúvida” de João acerca da messianidade de Jesus não é falta de fé, mas é sinal de uma profunda honestidade. Quem busca a verdade, mergulha na profundidade do mistério de Deus, sofre suas “noites escuras”, é tomado pela perplexidade diante das surpresas da vida. Afirma-se que devemos ter mais medo daqueles que têm suas grandes sabedorias, que estão absolutamente certos das suas verdades e dos seus dogmas, que acham que nunca se enganam e raramente tem dúvidas, do que daqueles que procuram, honestamente, as respostas às questões que a vida todos os dias coloca, que não tem o monopólio da verdade, que ouvem os irmãos, e que procuram, com eles, descobrir o caminho verdadeiro, mas que chegam a duvidar ou até deixar de crer. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ