3º Domingo de Páscoa
“É noite, fica conosco” – Lc 24,13-35 – A liturgia deste 3º Domingo da Páscoa nos oferece uma das mais conhecidas narrativas evangélicas: a dos “discípulos de Emaús”. Talvez se pudesse dar outros títulos a esta narrativa, tais como: “fazer arder o coração” – “ o companheiro do caminho” – “fica conosco, pois o dia declina” – “abençoar e repartir o pão” – “Forasteiro que caminha junto” – e muitos outros. A partir do atual contexto histórico e mundial, proponho refletir a narrativa a partir do tema da “noite”. Daí o título: “É noite, fica conosco”. O evangelho do 2º domingo da Páscoa (cf Jo 20, 19-31), iniciava dizendo que “era noite”, diferente da manhã radiosa da ressurreição. Os discípulos estavam trancados em casa, as portas fechadas por medo dos judeus (v.19). Nesta páscoa de 2021, a maior parte da humanidade esteve trancada em casa, “com medo”, não dos judeus, mas deste terrível inimigo invisível. Esta “noite” da pandemia já se faz longa. Neste 3º domingo da Páscoa estamos com mais uma narrativa em cenário de “noites”. Faz-se “noite” na vida dos discípulos em Jerusalém. Perderam a luz do horizonte. Dois deles saíram e puseram-se a caminho. Mesmo sendo à luz do dia, estavam na “noite” de suas vidas. As trevas eram tão intensas que nem sequer reconheceram Jesus que se pôs a caminhar com eles: era apenas um forasteiro a mais. Era “noite” quando chegaram em Emaús. Uma pequena lamparina se acendeu em seus corações: abriram-se à hospitalidade, ao acolhimento, esquecendo um pouco de suas trevas. E naquela “noite” houve a bênção e a partilha do pão. A luz rompeu as trevas. A vida ressurgiu! Todos/as temos experiência de quanto é difícil caminhar na escuridão. O mundo está mergulhado em trevas. A nação do Timor Leste junto com outros países do continente asiático, neste ano de 2021, viveu uma páscoa de “longa noite”. Uma Páscoa de medo, de trevas, de lágrimas, de cruz, de mortes. Ficou difícil reconhecer Jesus vivo, caminhando conosco. Sofremos uma inundação, uma cheia, que levou muitas vidas e destruiu muitos bens. Além da pandemia, as águas impediram a celebração da Ressurreição de Jesus. Timor Leste ficou, fisicamente, mergulhada em trevas. As águas invadindo casas, a fúria da correnteza dos rios, as pedras que rolavam, não da sepultura de Jesus, mas das montanhas que arrancavam árvores, levavam animais, destruíam as instalações elétricas, tudo trouxe uma longa noite para a vida do povo. Mas no meio desta trágica “noite”, a solidariedade, a hospitalidade, o ombro amigo, o lenço de enxugar lágrimas fez a luz brilhar, por vezes somente como pequena lamparina ou uma vela. E, como outrora, os dois discípulos voltaram “naquela mesma noite”, somos convocadas/os a nos levantar, acender lamparinas de solidariedade, de compaixão, de hospitalidade e reavivar nossa fé no Deus da Misericórdia, que caminha conosco. Afinal, temos a graça de contemplar os principais mistérios da nossa salvação que ocorreram durante a “noite”. Isto desde o caos primordial da criação, onde Deus disse: “haja luz”, até a ressurreição de Jesus, onde a luz venceu as trevas. “É noite, fica conosco”!
(Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ)