3º Domingo da Quaresma – 15-03
Dá-me de beber – Jo 4,5-42 – O Evangelho do III domingo da quaresma situa-nos junto de um poço, na cidade samaritana de Sicar. A Samaria era a região central da Palestina, uma região habitada por judeus e pagãos. Na época do Novo Testamento, existia uma rivalidade muito viva entre samaritanos e judeus. Historicamente, a divisão começou quando, em 721 a.C., a Samaria foi tomada pelos assírios e foi deportada cerca de 4% da população samaritana. Na Samaria instalaram-se, então, colonos assírios que se misturaram com a população local. Para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se (cf. 2 Rs 17,29). A relação entre as duas comunidades deteriorou-se ainda mais quando, após o regresso do Exílio, os judeus recusaram a ajuda dos samaritanos (cf. Esd 4,1-5) para reconstruir o Templo de Jerusalém (ano 437 a.C.) e denunciaram os casamentos mistos. Tiveram, então, de enfrentar a oposição dos samaritanos na reconstrução da cidade que os judeus construíam muros de dia e os samaritanos destruíam a noite (cf. Ne 3,33-4,17). No ano 333 a.C., novo elemento de separação: os samaritanos construíram um Templo no monte Garizim, destruído em 128 a.C. por João Hircano. Os judeus desprezavam os samaritanos por serem uma mistura de sangue israelita com estrangeiros e consideravam-nos hereges em relação à pureza da fé judaica. Os samaritanos também desprezavam os judeus. A narrativa deste domingo nos oferece o cenário do “poço de Jacó”. Trata-se de um poço estreito, aberto na rocha calcária, e cuja profundidade ultrapassa os 30 metros. Segundo a tradição, teria sido aberto pelo patriarca Jacó. O “poço” representa a Lei, o sistema religioso à volta do qual se solidificava a experiência religiosa dos samaritanos. Era nesse “poço” que os samaritanos procuravam a água da vida plena. No entanto, o “poço” da Lei não mais correspondia à sede de vida. Em torno do “poço” movimentam-se as personagens principais da narrativa: Jesus e a samaritana, ambos com sede. Jesus vai ao encontro da “mulher. Estamos, pois, diante de um quadro que representa a busca da vida plena. Onde encontrar essa vida? Na Lei? Noutros deuses? A mulher/Samaria dá conta da falência dessas “ofertas” de vida: elas podem “matar a sede” por curtos instantes, mas quem procura a resposta para a sua realização plena nessas propostas voltará a ter sede. É aqui que entra a novidade de Jesus. Ele senta-se “junto do poço”, como se pretendesse ocupar o seu lugar, e propõe à mulher/Samaria uma “água viva”, que matará definitivamente a sua sede de vida eterna (vers. 10-14). Jesus passa a ser o “novo poço”, onde todos os que têm sede de vida plena encontrarão resposta para a sua sede. Qual é a água que Jesus tem para oferecer? É a “água do Espírito”, que não se prende no caminho das instituições judaicas e nem no caminho dos samaritanos. Não é o templo de Jerusalém, nem o do monte Garizin que saciam esta sede. Trata-se de acolher a novidade do próprio Jesus, aderir a Ele e aceitar a sua proposta de vida. A mulher/Samaria compreende isto, abandona o cântaro (agora inútil), e corre a anunciar aos habitantes da cidade a experiência de sua sede saciada.
Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ