3º Domingo da Quaresma

17/03/2022

Transformação radical da existência – Lc 13,1-9 – O Evangelho do terceiro domingo da quaresma tem como cenário a “viagem” de Jesus para Jerusalém (cf. Lc 9,51-19,28). Mais do que um caminho geográfico, é um itinerário espiritual que Jesus percorre, acompanhado pelos discípulos. Durante esse percurso, Jesus prepara-os para que entendam e assumam os valores do Reino. Pretende que, terminada esta caminhada, os discípulos estejam preparados para continuar a Sua obra e levar a sua proposta libertadora a toda a terra. O texto de hoje, de compreensão um tanto difícil, apresenta um convite veemente à “conversão”, a uma transformação radical da existência.

Do ponto de vista literário, a narrativa apresenta duas partes distintas, embora unidas pelo tema da “conversão”. Na primeira parte (cf. Lc 13,1-5), Jesus cita dois exemplos históricos que, no entanto, não é conhecido com exatidão. Flávio Josefo, o grande historiador judeu do séc.I, narra como Pilatos matou alguns judeus que haviam se revoltado em Jerusalém. Estaria Jesus se referindo a este episódio? Não se sabe. Também não se sabe nada sobre a queda da torre de Siloé que teria matado dezoito pessoas… No entanto, o mais importante é o ensinamento de Jesus: aqueles que morreram nestes desastres não eram piores do que os que sobreviveram. Rejeita assim a “doutrina da retribuição”, de que qualquer desgraça era consequência do pecado pessoal ou até de antepassados. Os líderes judaicos consideravam-se justos pois, isentos de desgraças, não tinham necessidade de conversão. A insistência de Jesus é que todos precisam de conversão, de mudança de vida. Se ela não ocorrer, o egoísmo vencerá e conduzirá à morte.

Na segunda parte (cf.Lc 13,6-9), temos a parábola da figueira, uma metáfora das oportunidades que Deus concede para a conversão. O Antigo Testamento tinha utilizado a figueira como símbolo de Israel (cf. Os 9,10). Deus esperava que Israel desse frutos, ou seja, que aceitasse a transformação de sua existência, que acolhesse a proposta de Jesus como Salvador enviado. Apesar da relutância de Israel, Deus lhe dá um tempo, uma outra oportunidade, para que essa transformação ocorra. Jesus revela a bondade e a paciência do Pai, mas afirma que Ele não está disposto a esperar indefinidamente. Apesar do tom ameaçador há, no cenário de fundo, uma nota de esperança. Jesus espera e confia em que a resposta final de Israel à sua missão, seja positiva.

            Como se pode confirmar, o tema central deste Evangelho é a “conversão”. Não se trata de penitência externa, nem apenas de arrependimento pelo mal praticado. Trata-se de reformulação total da vida, de mudança da mentalidade, da superação da autorreferencialidade, de novas atitudes. A conversão exige humildade, reconhecimento de não ser dono da verdade, abertura ao confronto e muita dedicação à escuta da Palavra de Deus. É este caminho a que somos chamados a percorrer neste tempo a fim de renascermos, com Jesus, para a vida nova, a vida segundo Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ