3º DOMINGO DO TEMPO COMUM

25/01/2024

Um homem com um espírito impuroMc 1,21-28 – Seguimos com a leitura do Evangelho de Marcos e o relato deste 4º domingo é muito significativo e oportuno. Jesus, o filho de Deus, com sua autoridade que vem do Pai, liberta e transforma as pessoas que estão sob o domínio do egoísmo, do pecado e da morte. Esta ação de Jesus está descrita de diversas maneiras, na primeira parte do Evangelho de Marcos (cf. Mc 1,14-8,30). Toda a ação e ensino de Jesus, descritos neste bloco, acontece na Galileia e as “multidões” seguem Jesus, mais em busca de alimento e de saúde do que para seu seguimento. Para além destes benefícios materiais, Jesus realiza gestos libertadores que revelam sua messianidade e convocam a uma adesão ao Seu projeto. O ponto culminante deste relato está em Mc 8,29-30, com a confissão de Pedro: “Tu és o Messias”. É esta a meta do Evangelho. O texto que nos é hoje proposto aparece, situa-se no princípio desta caminhada. Rodeado já pelos primeiros discípulos, Jesus começa a revelar-Se como o Messias-libertador. O cenário do relato é Cafarnaum, uma pequena cidade situada às margens do Mar da Galileia. A sua importância se dava ao fato de ficar ao lado da estrada por onde passavam as caravanas provenientes da Síria. Era uma rota comercial. De acordo com os Evangelhos Sinóticos, foi aí que Jesus se instalou durante o tempo do seu ministério na Galileia. Vários dos discípulos viviam em Cafarnaum. Era uma pequena cidade bastante dinâmica. A cena narrada no Evangelho deste dia acontece num sábado. A comunidade está reunida na sinagoga de Cafarnaum para a liturgia sabática. Jesus participa da liturgia, que seguia o seu ritual costumeiro, conforme o estabelecido: leituras, hinos, cânticos, comentários. Talvez Ele tenha sido convidado para fazer e comentar a leitura neste dia, conforme o relato de Lucas (cf Lc 4,16ss). Segundo Marcos, seu comentário gerou admiração, pois era diferente dos “Escribas”, os “estudiosos” das Escrituras. O seu comentário era perpassado por outro espírito, brotava de um coração em sintonia com o Pai. As pessoas ficaram maravilhadas com as palavras de Jesus, “porque ensinava com autoridade e não como os escribas” (v. 22). A autoridade de Jesus vem do verdadeiro “autor” da vida. Os escribas ensinavam que a vida estava sempre ameaçada por doenças e outras desgraças, causadas pelos “espíritos maus” que se apropriavam das pessoas. O relato que Marcos faz é de uma catequese profunda e oportuna. Dentro da sinagoga, lugar de Liturgia e encontro religioso, há um homem possuído por um “espírito mau”. O que este “espírito mau” faz dentro da Igreja? Estaria aqui uma denúncia da atualidade? Parece que Marcos quer nos mostrar que o ensino de Jesus provoca inquietação e rejeição em setores do sistema religioso de então. Parece que o “espírito mau” está nas tradições religiosas que alimentam o egoísmo, a violência, a falta de justiça, a mentira. O possuído interpela violentamente: “Ele começou a gritar: “Que tens Tu a ver conosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus”. O Santo de Deus gera rupturas com a ordem estabelecida. Jesus traz uma proposta de libertação que vem de Deus. Pela ação de Jesus, Deus vem ao encontro da pessoa para a salvar de tudo aquilo que a impede de ter vida em plenitude. Assim o Reino de Deus “está próximo” com uma humanidade possuída por um “espírito bom”, o espírito de Jesus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ