33º Domingo do Tempo Comum

16/11/2023

“Entra na alegria do teu Senhor– Mt 25,14-30 – A liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum continua nos convocando à espera vigilante pela vinda do Senhor. Temos novamente uma parte do “discurso escatológico” (cf. Mt 24-25), onde o evangelista trata da segunda vinda de Jesus e define a atitude com que os discípulos devem esperar e preparar essa vinda. A parábola que hoje nos é proposta fala de “talentos” que um senhor distribuiu a seus servos. Um “talento” significa uma quantia muito considerável… Corresponde a cerca de 36 quilos de prata e ao salário de aproximadamente 3.000 dias de trabalho de um operário não qualificado.

O relato informa que um “senhor” partiu em viagem e deixou a sua fortuna nas mãos de três dos seus servos, em quantias diferentes. Dois duplicaram os bens recebidos e um escondeu para não correr risco de perder o que recebeu, manifestando uma visão equivocada do seu senhor. O relato é bem conhecido, mas há uma tendência de confundir “talento”, que é um valor monetário, com “talento” como dotes pessoais. A parábola não trata de dotes pessoais.  Mais uma vez precisamos considerar o contexto histórico do relato escrito. Estamos pelos anos 80 dC e os cristãos já abandonaram o entusiasmo do “primeiro amor” (cf Ap 2,4). É preciso reaquecer o vigor do seguimento, cultivar a fé e renovar o compromisso da prática dos valores do Reino.

Provavelmente a parábola, tal como saiu da boca de Jesus, era uma “parábola do Reino”, como todas as demais deste contexto. O patrão, que confia nos seus servos, seria Deus, que conta com uma lealdade a toda a prova e que reprova a indiferença, as situações de acomodação e de preguiça. Os servos, o Povo de Deus, a quem Ele confia os valores do Reino devem acolher estes dons e pô-los a render. No projeto de Deus, ou se está completamente comprometido, ou não se entra na “alegria do Senhor”. Os valores do Reino precisam ser traduzidos em ações concretas, em frutos de justiça e misericórdia. As obras são a expressão da fé.

Mais tarde o evangelista relata a parábola dentro do novo contexto: o da vinda do Senhor Jesus, no final dos tempos… A vinda do Senhor é uma certeza e quando Ele voltar, julgará os servos conforme a prática que tiverem assumido neste tempo de espera. Neste contexto, o “senhor” é Jesus que, antes de deixar este mundo, entregou a seus discípulos bens valiosos, tais como: a Palavra de Deus, o amor que se faz serviço aos irmãos, a partilha, a misericórdia, a fraternidade, os carismas e ministérios que ajudam a construir a comunidade do Reino… Estes bens devem dar frutos. Na parábola, dois servos fizeram render os bens recebidos. Deram de comer a quem tinha fome, de beber aos sedentos, vestiram os nus, assim por diante (cf Mt 25,31ss). A estes Jesus dirá: Entra na alegria do teu Senhor”. Quem nada fez pelo outro, tem condenação dura. “Servo mau e preguiçoso…  Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores..Aí haverá choro e ranger de dentes”. Assim, a comunidade precisa estar alerta e vigilante, sem se deixar vencer pelo comodismo e pela rotina. Esquecer os compromissos assumidos com Jesus e com o Reino, omitir-se das suas responsabilidades, aceitar passivamente que o mundo caminhe em direção oposta aos valores do Evangelho, instalar-se na passividade e no comodismo, é enterrar o talento. A sentença é de exclusão.  O discípulo de Jesus espera o Senhor, profundamente envolvido e empenhado na construção de um  mundo melhor, ocupado em fazer frutificar os “bens” do projeto de Deus e em construir o Reino. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ