33° Domingo do Tempo Comum – 15/11/2020
“Fidelidade Ativa e Criativa” – Mt 25,14-30 – O Evangelho deste domingo está em continuidade ao do domingo anterior, no qual Jesus falou do Reino de Deus como uma festa de casamento, para o qual se faz necessário a reserva do azeite das “obras”, para manter acesas as lamparinas da “fé”. O apóstolo dirá que a “fé sem obras é morta” (Tg 2,17). Os que possuem talentos e não os tratam de forma adequada, são também excluídos do Reino. “A porta será fechada”. O evangelho está no contexto da segunda vinda de Jesus e Mateus nos relata o “discurso escatológico” (Mt 24-25), uma elaboração literária de Mateus, a partir de Mc 13. Estamos nos anos 80 e 90 da era cristã. As comunidades vivem o problema da demora da segunda vinda de Jesus, perderam o vigor inicial; muitos se acomodaram, entraram na rotina, no comodismo, na facilidade. Era preciso reaquecer o entusiasmo dos fieis, redespertar a fé, renovar o compromisso cristão com Jesus e com a construção do Reino. A parábola que hoje nos é proposta fala de “talentos” que um senhor distribuiu pelos servos. Em nossa cultura atual, identificamos “talentos” como “dons pessoais”, mas não se trata disto na parábola. Um “talento” significa uma quantia muito considerável… Corresponde a cerca de 36 quilos de prata e ao salário de aproximadamente 3.000 dias de trabalho de um operário não qualificado. Mais uma vez temos o recurso do exagero, que visa criar impacto nos ouvintes. A “parábola dos talentos” conta que um “senhor” partiu em viagem e deixou a sua fortuna nas mãos dos seus servos. A um, deixou cinco talentos, a outro dois e a outro um. Quando voltou, chamou os servos e pediu-lhes contas da sua gestão. Os dois primeiros tinham duplicado a quantia recebida; mas o terceiro tinha escondido cuidadosamente o talento que lhe fora confiado, pois conhecia a exigência do “senhor” e tinha medo. Os dois primeiros servos foram louvados pelo “senhor”, ao passo que o terceiro foi severamente criticado e condenado. O texto destaca o terceiro servo, o que está em desarmonia, enterra o talento e tem medo do seu senhor. São diversas as interpretações desta parábola. Certamente não se trata de uma proposta de lucro, de produção, de acúmulo. Olhando o contexto de todo o Evangelho de Mateus, pode-se afirmar que o foco está nas “obras” que os seguidores de Jesus devem realizar. Ao longo de todo o Evangelho temos a convocação para a “prática” dos valores do Reino: “Não é o que diz ‘Senhor, Senhor’ que entrará no Reino, mas aquele que faz...” (Mt 7,21). A insistência nos frutos é constante. O Juízo final (cf Mt 25, 31-46) será sobre a realização ou não, das obras. Os da direita fizeram os talentos se multiplicar, os da esquerda agiram como o terceiro servo. “Tudo o que ‘fizerdes’ ao menor dos meus irmãos” (25,45). A crítica forte de Jesus é contra os que “dizem, mas não fazem” (cf Mt 23,3), os que não traduzem em obras o dom que receberam. Os “talentos” são os dons, os valores que Deus, através de Jesus, ofereceu à humanidade: a Palavra de Deus, o amor que se faz doação aos irmãos e que se dá até à morte, a partilha e o serviço, a misericórdia e a fraternidade, os carismas e ministérios que ajudam a construir a comunidade do Reino… Os discípulos de Jesus são os depositários desses “talentos”, que ‘devem dar frutos”. “Estende a tua mão ao pobre” (Eclo 7,32), é o grande fruto que se espera dos seguidores de Jesus, segundo a convocação do Papa Francisco, neste “Dia Mundial dos Pobres”. O discípulo de Jesus não espera o Senhor apenas de mãos erguidas e de olhos postos no céu, distraído da situação dos pobres do mundo e preocupado em não se envolver com as questões sociais ou políticas … O discípulo de Jesus espera o Senhor profundamente envolvido e empenhado na construção de um mundo justo e fraterno, ocupado em distribuir os “talentos” a todos os seus irmãos, em fidelidade ativa e criativa. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ