32º Domingo do Tempo Comum

07/11/2024

Guardai-vos… – Mc 12,38-44 – No 32º domingo do Tempo Comum a Liturgia, mais uma vez, nos mergulha num texto que retrata, de um lado a grandeza do coração humano e de outro,  a mesquinhez e vaidade, O Cenário do relato evangélico é Jerusalém, mais precisamente o Templo, lugar onde se realiza o verdadeiro culto que agrada a Deus, mas também o espaço de ostentação e exploração dos pobres. Jesus recém entrara em Jerusalém. No fim de cada dia se recolhia em Betânia e pela manhã, junto com seus discípulos, vinha para Jerusalém e ia ao Templo. Seu espaço era o átrio do Templo, o “átrio das mulheres”, lugar em que circulava muita gente e ali ensinava, conversava, esclarecia as dúvidas, mas, acima de tudo, observava  o modo de agir das elites religiosas. Desde que entrou em Jerusalém, as polêmicas são cada vez mais acirradas. O relato deste domingo está num contexto de confronto direto, como se pode observar pelo contexto do texto. Inicia com a expulsão dos vendilhões do Templo (11,15-19);  segue com a parábola dos vinhateiros homicidas (Mc 12, 1-12); prossegue com a questão do tributo a César (12,13-17) e a discussão dos saduceus sobre a ressurreição dos mortos ( 12,18-27). A cada momento vai ficando mais evidente que o projeto do Reino, proposto por Jesus, não encontra espaço no universo dos líderes judaicos. A experiência libertadora de Moisés, sua fé e sua prática religiosa, foi transformada numa proposta vazia, cheia de ritos suntuosos, focada na promoção e reconhecimento pessoal. Neste espaço se dava um verdadeiro folclore religioso. As vestes pomposas, os grandes gestos teatrais, asseguravam honras e privilégios aos detentores do poder, alimentava a sua vaidade, a ambição, a mentira. Jesus aproveita deste espetáculo ridículo para alertar os discípulos sobre o necessário discernimento. “Guardai-vos” desta forma de ser e de agir. Fazem da religião um teatro e são diabólicos no seu agir. “Devoram” as casas das viúvas. No tempo de Jesus, uma viúva que não tivesse filho varão, não podia administrar os seus bens. Líderes religiosos assumiam esta tarefa, pois o cuidado de órfãos e viúvas era prescrição da Lei. Mas esta defesa legal das viúvas se transformara em fonte de exploração. A linguagem é dura: “devoram as casas das viúvas”. O evangelho segue com a descrição da forma ruidosa das ofertas para o tesouro do Templo. Jesus observa tudo e em sua sensibilidade vê que uma pobre viúva coloca “tudo o que possuía para viver”. Costuma-se ler este episódio como o máximo de generosidade da pobre viúva. É possível que Jesus esteja exaltando esta generosidade e confiança em Deus. Mas outra leitura também pode ser feita. A mulher pobre e viúva “deu tudo o que tinha para viver”. Teria aqui um crítica indireta de Jesus para esta realidade? O sistema do Templo chega a recolher “tudo o que se tem para viver”?  Noutra passagem Jesus se declarara como aquele que “veio para que todos tenham vida e vida em abundância”. Estaria Jesus legitimando o sistema do Templo que explorava os pobres? Porém uma  leitura direta do texto mostra que o gesto desta mulher tem a marca da religião autêntica. O encontro com Deus, o culto que Deus quer passa por gestos simples e humildes, gestos que talvez ninguém perceba, mas que são sinceros, verdadeiros, e expressam a entrega generosa e o compromisso total.. É este o exemplo que os discípulos de Jesus devem imitar; é esse o culto verdadeiro que eles devem prestar a Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ