31° Domingo do tempo comum – 01/11
“Dizem, mas não fazem” – Mt 23, 1-12 – A liturgia do 31º Domingo do Tempo Comum convida-nos a uma reflexão séria sobre a coerência entre o “dizer” e o “fazer”. Vale logo trazer o que nos diz o pensador Kleber Novartes: “Se quiser conhecer uma pessoa, não escute suas palavras, mas observe suas atitudes e ações”. Mais uma vez estamos em Jerusalém, nos últimos dias antes da paixão e morte de Jesus, dias do confronto final entre Jesus e os líderes religiosos da nação judaica. Fixos em suas certezas, convicções e preconceitos, continuam recusando a proposta do Reino e a preparar o processo contra Jesus. A passagem que lemos hoje é a introdução de um longo discurso contra os líderes religiosos de Israel (cf. Mt 23,13-36). Trata-se de um dos discursos mais duros e polêmicos dos evangelhos. Certamente não se trata de um discurso feito por Jesus em determinado momento, em que teria pronunciado todos estes “ais de vós”, mas trata-se de uma elaboração literária, feita pelo evangelista, recolhendo possíveis ditos de Jesus em diferentes contextos. O Evangelho de Mateus tem como pano de fundo a realidade das comunidades cristãs frente ao judaísmo que se formou nos anos 80 a 90 dC. É um grito dos judeu-cristãos que foram expulsos das sinagogas pelos fariseus, gerando muito sofrimento nas comunidades primitivas. Este duro discurso é uma imagem do que ocorria entre os fariseus de então e a comunidade cristã. Literariamente o texto de hoje pode ser dividido em duas partes: na primeira, temos um retrato escrito dos fariseus (vv. 1-7); na segunda, alguns conselhos aos discípulos de Jesus para que não se transformem também em “fariseus” (vv. 8-12). Quem eram os fariseus? No tempo de Jesus, a maioria era composta por judeus piedosos e diversos procuraram a Jesus sinceramente. Porém, algumas vezes, foram criticados por Jesus. O texto inicia dizendo que se “instalaram na cadeira de Moisés” (v. 2). Trata-se da autoridade exclusiva que os fariseus se atribuíam a si próprios para interpretar a Lei de Moisés. Eles são acusados de terem se apropriado da Palavra de Deus, sobrecarregando a Lei com muitas regras e normas. Absolutizando a lei, esqueceram do essencial: a justiça, a misericórdia e a fidelidade (v.23), levando ao afastamento do Deus da Aliança e do amor. Em suas atitudes de superioridade e de pureza legal, desprezavam os “pobres da terra”. Deles diz-se que “dizem e não fazem” (v 3). E Jesus bem conhecia tais atitudes do dizer e não fazer. Dizem “Senhor, Senhor”, mas não fazem a vontade do Pai (cf Mt 7,21). O evangelho ainda denuncia que os fariseus carregam as pessoas com fardos pesados e insuportáveis (v. 4). Na verdade, as exigências dos fariseus tornavam impossível a vida de fé dos fieis. Era uma autêntica escravatura da Lei. E ainda gostam de fazer da sua fé e da sua piedade uma exibição, uma autopromoção. Quanta atualidade nestas denúncias! Missas shows, roupas litúrgicas suntuosas, autopromoções nas liturgias… É preciso muito cuidado para que o farisaísmo não se perpetue na Igreja de Jesus. O Reino de Deus passa pela simplicidade, humildade, prática da “justiça, misericórdia e fidelidade” e, acima de tudo “fraternidade”. “Todos irmãos” – Fratelli Tutti – ninguém superior a ninguém. Na comunidade de Jesus, só o amor e o serviço devem ter o primeiro lugar: “o maior de entre vós, será o vosso servo” (v. 11). E que não sejamos acusados com a dura frase: “dizem, mas não fazem”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ