30° Domingo do Tempo Comum – 25/10
O que não se discute – Mt 22,34-40 – Estamos no 30º Domingo do Tempo Comum, ano este que nos colocou no ambiente da comunidade do Evangelho de Mateus. Estamos mais uma vez no cenário de Jerusalém, etapa final da trajetória de Jesus, iniciada na Galileia. Por diversos domingos seguidos tivemos a oportunidade de acompanhar Jesus em seus confrontos com os líderes religiosos judaicos, que já concluíram que a proposta de Jesus é uma proposta que não vem de Deus e que deve ser rejeitada. Acreditam mesmo que é seu dever eliminar Jesus, que Ele deve ser denunciado, julgado e condenado, de forma exemplar. Tudo fazem para justificar sua decisão. Preparam cuidadosamente armadilhas para pegar Jesus em alguma contradição, discutem, caluniam. Neste domingo chegam ao coração da identidade judaica, que é a Lei (cf. Mt 22,34-40). O evangelho inicia informando que Jesus fizera calar os saduceus sobre a fé na ressurreição. Então os fariseus, opositores dos saduceus, aproveitam a oportunidade também entrarem em cena interrogarem Jesus e, se possível, saírem vitoriosos sobre os saduceus. Um deles, dos mais preparados, em nome do grupo, traz a questão do maior mandamento da Lei. Contextualizando brevemente, o assunto do “maior mandamento da Lei” era uma questão de suma importância. Gerava longas discussões entre os fariseus e os escribas, que disputavam a mais correta interpretação. A preocupação em bem fazer cumprir a Lei, de forma que ele alcançasse todas as questões do dia a dia das pessoas, tinha levado os doutores da Lei a elaborar um conjunto de 613 preceitos, dos quais 365 eram “proibições” e 248 eram “ações” a realizar. Com tantos preceitos, necessário se fazia estabelecer prioridades. Ao questionarem Jesus sobre o “maior mandamento da Lei”, os fariseus buscam demonstrar que Jesus não sabe interpretar a Lei e que, portanto, não é digno de crédito. Uma armadilha que consideravam infalível. Jesus não entra nesta discussão e desarma seus interlocutores. Não entra na questão de “prioridades quantitativas”, mas vai para o núcleo de todos os mandamentos: “o amor a Deus e o amor ao próximo”. A “Lei e os Profetas” são apenas comentários a estes dois mandamentos. Jesus relativiza todo arsenal de leis que chegavam a oprimir o povo e que eram, acima de tudo, a segurança das elites religiosas: para a classe sacerdotal, o pecado alimentava o sistema dos sacrifícios; para os fariseus, a aplicação da lei era sua ocupação preferida e para os escribas, a interpretação da Lei era sua profissão muito bem paga. Jesus não responde à questão levantada pelos fariseus, mas evidencia o núcleo de todo o seu ensinamento: “amor a Deus e amor ao próximo”. Outras leis são válidas e até necessárias, enquanto nos levam ao coração da Lei: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” (vv. 38-39). Um desafio sempre mais urgente, num mundo onde não são as 613 leis que regem a vida do povo no seu cotidiano, mas uma única e absoluta lei tudo domina: a da autorreferencialidade, do império do eu, do egoísmo institucionalizado. Pode-se afirmar que, particularmente nestes tempos de pandemia, a vida humana depende da fidelidade a estes dois mandamentos: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Sobre isto não se discute. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ