2º Domingo da Quaresma
Jesus… subiu ao monte, para orar – Lc 9,28b-36 – Estamos no 2º domingo da Quaresma, um tempo que nos é concedido para revitalizar a nossa fé e nos levar ao encontro com Deus. É um convite feito a nós de também “subir ao monte para orar”. Abraão, na primeira leitura, é personagem modelo de fé, de saber “esperar contra toda esperança”, de confiar até o extremo, de entrega plena aos desígnios de Deus. O relato do Evangelho de Lucas nos coloca numa das páginas mais luminosas da Sagrada Escritura. Trata-se de um cenário descrito pelos evangelhos sinóticos. A narrativa da “transfiguração” terá sido uma memória muito importante para todas as comunidades cristãs primitivas. Olhemos o texto no seu contexto. Segundo o relato de Lucas, Jesus está no final da “etapa da Galileia”. Logo tomará a “firme decisão”de assumir o caminho para Jerusalém, para o trágico desfecho final. Sua pregação ao longo da Galileia, estava muito bem focada na salvação dos pobres, na libertação dos cativos, nos cegos recobrando a vista, na libertação dos oprimidos e na proclamação do tempo da graça do Senhor, conforme anunciara na sinagoga de Nazaré. Logo de inicio, chamou um grupo de discípulos a quem confiou a mesma missão. Os discípulos, no entanto, tiveram muita dificuldade de compreender o cerne desta missão, pois suas convicções iam por outros caminhos. Jesus, porém, foi lhes revelando sempre mais os mistérios do reino de Deus, com sua grandeza e plenitude, mas que passaria pela cruz. Chegou a dizer claramente que o Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar”. Não era isso que os discípulos queriam quando se puseram a segui-lo. Ainda mais: Jesus lhes pediu que “negassem a si mesmos, tomassem a cruz e o seguissem no caminho do dom da vida até à morte”. Os discípulos, certamente, ficaram desapontados, desorientados. Então Jesus chamou Pedro, Tiago e João, os três principais “cabeças” do grupo, os mais resistentes, e convidou-os a subir com Ele a um monte. “Monte” ou “montanha” tem força simbólica. Para a tradição judaica, era o lugar da revelação de Deus. Só esta indicação já sinaliza para a grandeza do evento narrado, mas que não deve ser lido como um relato histórico. Trata-se de uma revelação de Deus, uma “teofania”. Como nenhuma linguagem humana é capaz de descrever tal experiência, os autores recorrem ao imaginário do Antigo Testamento: o monte, as aparições, as vestes refulgentes, a nuvem, a voz que vem do céu, o medo. Ainda se pode observar outros elementos do cenário: os discípulos “dormem”, ou seja, não querem a cruz como caminho da glória. Pedro quer armar “tendas”, como se fazia nas festas em memória do Êxodo. Os discípulos querem festa e não cruz! Tem ainda a “nuvem”, que indica a presença de Deus. Mas o destaque de todo o cenário é a “voz” que vem das nuvens e se dirige aos discípulos: “Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O”. Uma declaração solene do Pai, proclamando que Jesus é o Filho de Deus. Ouvir, seguir, crer em Jesus como Filho de Deus é a mensagem central do Evangelho da Transfiguração. Por meio da figura humana de Jesus “transparece” a figura do Pai. No 1º domingo da quaresma vimos que até mesmo o “diabo” tentou desviar Jesus desta certeza. Mas a fidelidade de Jesus trouxe a salvação do mundo. Os discípulos só serão discípulos se forem também “transfigurados”, ou seja, se forem “transparência do divino” no mundo. Daí a necessidade constante de “subir ao monte para orar”. Enquanto isto não for bem compreendido, é preciso ficar em “silêncio”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ