2º Domingo da Quaresma – 28/02
“Subiu ao monte e transfigurou-se” – Mc 9,2-10 – No segundo Domingo da Quaresma a Palavra de Deus nos convoca à escuta atenta de Jesus, na obediência total e radical aos planos do Pai. Também nos mostra como “crescer no conhecimento de Jesus Cristo”, conforme rezamos na oração da Coleta do 1º domingo da Quaresma. O Evangelho deste domingo traz o relato da transfiguração. Seguindo o itinerário de Jesus na narrativa de Marcos, o texto da transfiguração vem logo depois do “primeiro anúncio da Paixão” (cf. Mc 8,31-33) e dos ensinamentos sobre as condições para seguir Jesus (cf. Mc 8,34-38). Os discípulos já tinham percebido que Jesus era o Messias libertador (cf. Mc 8,29), mas sua visão messiânica estava desfocada. Esta falta de correta visão é bem simbolizada na figura do cego de Betsaida (cf Mc 8,22-26), que “vê os homens como árvores que andam”. Após o anúncio da Paixão, os discípulos, desanimados e assustados, percebem que a aventura na qual apostaram suas vidas parece encaminhar-se para um fracasso. A cruz no horizonte não estava nos seus projetos. Pedro busca desviar Jesus de sua opção. É neste contexto que Marcos relata o episódio da transfiguração. Literariamente, a cena da “transfiguração” é uma “teofania”, ou seja, uma manifestação de Deus. O cenário é descrito em linguagem do imaginário judaico: o “monte”, a “voz” do céu, as “aparições”, as “vestes brilhantes”, a “nuvem” e mesmo o “medo e a perturbação” daqueles que presenciam o encontro com o divino. É bom recordar que não estamos diante de um relato fotográfico de acontecimentos, mas de uma revelação que quer mostrar que Jesus é o Filho amado de Deus e que seu projeto vem do Pai. Os discípulos podem confiar na vitória do bem. Olhemos mais de perto os símbolos presentes no relato. O monte: lugar da presença de Deus. É sempre num monte que Deus se revela. Monte é também um espaço privilegiado para ampliar a visão. É no monte, na intimidade com o divino, com o olhar alargado, que a transfiguração acontece. A figura humana de Jesus, aquela que vai sofrer a “desfiguração” num outro monte, é transpassada, “transfigurada” pelo fulgor do divino. A mudança do rosto e as vestes brilhantes, muitíssimo brancas, recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (cf. Ex 34,29), depois de se encontrar com Deus e de ter as tábuas da Lei. A nuvem, por sua vez, indica a proteção divina: era a nuvem que conduzia o povo através do deserto (cf. Ex 40,35). Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas. O temor e a perturbação dos discípulos são a reação lógica de qualquer pessoa, diante da manifestação da grandeza e da majestade de Deus (cf. Ex 19,16). O cenário e seus símbolos deixam claro que Jesus é o Filho amado de Deus, em quem se manifesta a glória do Pai. Nestes tempos de tantas perturbações e tragédias, em que nos sentimos mais no “monte da desfiguração” do que no da “transfiguração”, Jesus nos convida a “subirmos ao monte”, a colocar-nos na presença de Deus, a ampliar nossos olhares sobre a realidade e nos comover com as cruzes e os crucificados presentes no caminho. A experiência da “transfiguração” nos encherá de alegria e esperança, e ouviremos a voz do Pai… Por ora, é preciso “guardar silêncio”, pois ainda não compreendemos os desígnios de Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ