2º Domingo da quaresma

26/02/2024

Subir ao monte com Jesus – Mc 9,2-10 – No primeiro domingo da Quaresma fomos impelidas pelo Espírito para ir ao “deserto” com Jesus, lugar do encontro e do confronto e, com Ele, resistir à tentação do grande “sedutor”. Neste segundo Domingo a liturgia nos convoca a “subir ao monte” com Jesus, para reanimar a nossa fé e restaurar o vigor da caminhada. O episódio deste dia, literariamente, está situado num momento crucial da vida de Jesus. O itinerário da sua pregação, segundo o evangelista Marcos, situa-se basicamente em três cenários: Galileia, Caminho e Jerusalém. A maior parte de sua pregação foi na Galileia (cf Mc 1,15- 8,38), onde as multidões vinham de todas as partes para serem curadas e ouvirem a “boa nova”. Junto ao sucesso inicial da sua pregação, Jesus sofre cada vez mais resistência e oposição por parte dos líderes religiosos judeus. Os fariseus e alguns doutores da Lei se detinham em vigiar e criticar suas palavras e ações. Não toleram sua liberdade frente às tradições religiosas judaicas. Além das constantes provocações, exigem sinais diferentes daqueles que Jesus realiza. Há confrontos diretos e constantes. Fica cada vez mais evidente que o judaísmo oficial não vai aceitar Jesus e o projeto do Reino. Para os discípulos, esta situação vai ficando também sempre mais difícil… Eles são “judeus” e viam Jesus como “o Messias” que Israel esperava ansiosamente (cf. Mc 8,29-30). Foram chamados e seguem Jesus com entusiasmo e ambição. Mas quando Jesus comunicou sua decisão de ir para Jerusalém e avisou que lá iria sofrer muito e ser morto pelas autoridades judaicas, não conseguem alcançar a compreensão necessária. Pedro, em nome do grupo, contestou a decisão de Jesus e foi intimado a pôr-se no seu lugar, o de discípulo, e não ser obstáculo ao projeto de Deus. Deixar de ser “satanás” (cf. Mc 8,32-33). Como se tudo isto não bastasse, Jesus convidou os discípulos a renegar-se a si mesmos, a “tomar a cruz” e a segui-l’O no caminho da entrega da vida até à morte (cf. Mc 8,34-38). Certamente os discípulos sucumbiram diante de tais exigências. Então Jesus chamou Pedro, Tiago e João, o trio líder do grupo, convidou-os a subir com Ele a um monte. O relato não informa qual o monte, o que amplia a possibilidade de maior compreensão do episódio. O cenário contém elementos que, no imaginário judaico, acompanham as manifestações de Deus. Trata-se de uma “teofania”, a modo do Antigo Testamento. Estão presentes o “monte”, as “aparições”, as “vestes brilhantes”, a “nuvem”, a “voz” que vem do céu; também o “medo” e a “perturbação” daqueles que presenciam o encontro com o divino. Certamente não se trata de relato de um acontecimento histórico, mas de uma catequese destinada a revelar quem é Jesus e confirmar que ele é o Filho de Deus. Qual o sentido do vocábulo “transfigurar”? “Transfigurar” não significa “transformar”, ou seja, “mudar de forma”, mas se trata de trespassar, atravessar, ou seja, a figura humana de Jesus é atravessada pela luz do divino. Uma aproximação dos elementos simbólicos pode nos ajudar a mergulhar no mistério da transfiguração, um cenário no qual a figura humana de Jesus é perpassada pelo divino do Pai.  O “monte” aponta para o lugar da revelação de Deus. O “rosto e as vestes brilhantes” recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (cf. Ex 34,29). A “nuvem” indica a presença de Deus. Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas. O “temor e a perturbação” dos discípulos são a reação lógica de qualquer ser humano, diante da manifestação da majestade divina. A “voz” que vem da “nuvem”, elemento fundamental, declara solenemente: “Este é o meu Filho muito amado”. O próprio Deus “apresenta” Jesus e garante que Ele é “o Filho amado” que veio ao encontro da humanidade. Esta voz ordena solenemente: “escutai-o”. Escutar o Pai é a ordem dada aos discípulos. Por ora se trata de subir o monte, ouvir o Pai, confiar em Jesus, guardar silêncio e seguir Jesus até a cruz. Depois irão anunciar ao mundo o grande mistério de nossa Salvação. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ