29º Domingo do Tempo Comum

17/10/2024

 

“Não sabeis o que pedis”- Mc 10, 35-45 –  Neste 29º domingo voltamos a encontrar Jesus com o seu grupo de discípulos no caminho para Jerusalém. É um caminho não apenas geográfico, mas espiritual e, ao longo do percurso, Jesus vai mostrando as exigências do Reino e as condições para o Seu seguimento. O caminho é, por excelência, o lugar de formação dos discípulos. Jerusalém já se aproxima, a tensão cresce, a cruz está no horizonte e Jesus vai na frente ensinando o caminho. Os discípulos seguem assustados. Não perdem, porém, a esperança de que Jesus reveja sua decisão e opte pelo reino de poder. Enquanto os discípulos alimentam esta esperança, Jesus vai mostrando, sempre com mais clareza, o horizonte do caminho: a cruz. Não facilita a vida de ninguém. Para maior clareza, pela terceira vez diz que vai ser “entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, e estes por sua vez vão entregá-lo aos gentios”. Mesmo com tamanha insistência, os discípulos ainda continuam a raciocinar de forma bem humana, a partir de uma lógica em absoluta contradição com o projeto de Deus. De forma muito surpreendente, entram em cena Tiago e João, filhos de Zebedeu.  Os dois estão com Jesus desde a primeira hora (cf. Mc 1,16-20) e fazem parte do núcleo dos mais próximos. Supõe-se que vivam na intimidade com Jesus e que tenham um bom conhecimento do que significa “seguir Jesus”. São sua nova família. No entanto, no caminho, se aproximam de Jesus e lhe fazem um pedido. “Mestre, nós queremos que nos faças o que vamos pedir: concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda”. O evangelista descreve a cena de maneira muito crua. Os dois discípulos não manifestam nenhuma reverência ou respeito; simplesmente reivindicam algo como se fosse um direito deles: “nós queremos que nos faças”. O fato mostra que Tiago e João, mesmo depois de tudo o que Jesus vem falando ao longo do caminho, não entenderam a lógica do Reino. Para eles, o que importa é a realização dos seus sonhos pessoais de autoridade, de poder e de grandeza. Realmente os dois “não sabem” o que estão pedindo. Não há conexão entre as palavras de Jesus e a compreensão dos discípulos. Isto se evidencia ainda mais na pergunta de Jesus sobre o cálice do sofrimento. Tiago e João viram nesse “cálice” e nesse “batismo” a participação na glória de Jesus; e responderam prontamente: “podemos”. Jesus confirma que eles beberão do “cálice” que Ele vai beber e que serão batizados no mesmo “batismo” em que Ele vai ser batizado, mas não por agora. Eles ainda não tem noção do que os espera. Só o saberão mais tarde, após a Páscoa. Marcos ainda relata a reação indignada dos outros discípulos com a pretensão dos dois irmãos. Essa reação indica que todos eles tinham as mesmas pretensões e os mesmos sonhos de grandeza. Jesus não perde a oportunidade para mais um ensinamento sobre as questões de poder. Os “governantes das nações” proclamam sua autoridade absoluta, dominam, exploram, usam de violência. Esta forma de poder está frontalmente contra a comunidade do Reino, que é amor, serviço, respeito, doação, fraternidade. Realmente Tiago e João, bem como nós também, não sabemos o que pedimos. Há muito caminho a percorrer. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ