28º Domingo do Tempo Comum – dia 13/10/2019

11/10/2019

A gratidão é a linguagem do coração – Lc 17,11-19 – Mais uma vez Lucas apresenta um episódio situado no “caminho de Jerusalém”, um “caminho formativo, teológico-espiritual”, no qual os discípulos de ontem e de sempre vão sendo formados, no conhecimento e na prática, como seguir Jesus, quais os valores do Reino que precisam ser assimilados. Neste “caminho” de Jesus e dos discípulos de então, aparecem dez leprosos, uma narrativa exclusiva de Lucas. São dez hansenianos, se diria hoje. Suplicam pela cura, pela purificação.  O número dez, certamente, possui um significado simbólico: representa a “totalidade”. No judaísmo, considerava-se necessário a presença de, pelo menos, dez homens para se fazer a oração comunitária. São dez leprosos: seriam nove judeus e um samaritano. O leproso era, no tempo de Jesus, o personagem que representava o máximo da marginalização. Além de causar repugnância pela sua aparência e de representar perigo de contágio, era classificado como portador da maior impureza religiosa (cf. Lv 13-14). A teologia oficial atribuía a eles os pecados mais graves que se poderia cometer. Assim sendo, segundo a teologia da retribuição, a lepra era castigo de Deus pelos pecados cometidos. O leproso não podia estar no convivo social, não podia entrar nem na cidade de Jerusalém, pois iria contaminar a cidade santa, torná-la impura. Devia afastar-se de qualquer convívio humano para que não contaminasse os outros com a sua impureza física e religiosa. Era um marginalizado pleno. Raramente se curaria, mas em caso de cura, devia apresentar-se a um sacerdote, a fim de que ele comprovasse a cura e lhe permitisse a reintegração na vida normal (cf. Lev 14). Só então podia voltar ao convívio e a participar nas celebrações do culto. No episódio da narrativa em questão, um dos leprosos é samaritano, alguém duplamente excluído. Os samaritanos eram desprezados pelos judeus de Jerusalém, desde há muito tempo, uma história que vem de diversos séculos passados.  Na época de Jesus, a relação entre as duas comunidades era marcada por uma grande hostilidade. O Evangelho deste domingo vem na contra mão de toda uma tradição e práticas religiosas. Mostra que Deus tem um projeto de salvação para oferecer a todos, sem exceção. A presença de um samaritano no grupo mostra que a salvação não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, como a religião oficial apregoava, mas a todos, especialmente aos que o judaísmo oficial considerava definitivamente impedidos de salvação. Contudo, o acento do episódio de hoje está no fato de que  eram dez leprosos curados, mas só um voltou para agradecer a Jesus e este era um samaritano. Os nove que não voltaram, certamente, se consideraram no ”direito da salvação”. O samaritano, considerado herege, percebe a salvação, não como direito adquirido pela sua observância da Lei, mas como puro dom de Deus. Os hereges, os desprezados, aqueles que a teologia oficial considera à margem da salvação, estão também no coração em Deus. E a linguagem do coração é a gratidão. Ir. Zenilda Luzia Petry -FSJ