28º Domingo do Tempo Comum
O banquete do Rei – Mt 22,1-14 – A imagem da “vinha’ nos acompanhou nos três últimos domingos. A liturgia do 28º Domingo do Tempo Comum vem a nós com outra imagem, a do “banquete”, um cenário muito rico em significados, que sinaliza para uma vida de plenitude, de amor e de alegria. Na primeira leitura Isaías já anuncia um “banquete de manjares suculentos” que Deus vai oferecer a todos os povos. O “banquete”, na cultura semita, como em outras culturas ainda hoje, é o lugar do encontro, da comunhão, do estreitamento de laços familiares. É também um evento pelo qual se manifesta o “status” das pessoas e o seu lugar na escala social. Quem organizava um “banquete” fazia uma seleção cuidadosa dos convidados para não correr o risco de rebaixar o “status” da família, pela presença de pessoas “desclassificadas.
Dito isto, olhemos mais de perto o Evangelho deste dia. Como nos últimos domingos, o cenário continua sendo Jerusalém, um pouco antes da Páscoa. A tensão entre Jesus e os dirigentes religiosos judeus aumentam a cada dia. Isto se evidencia nas três parábolas do mesmo cenário, que estamos lendo nestes domingos (cf. Mt 21,28-32; 33-43; 22,1-14). Os líderes religiosos, os “vinhateiros”, já concluíram que a proposta de Jesus não vem de Deus e rejeitaram, de forma absoluta, o Reino que ele anuncia. O nosso texto é a última dessas três parábolas. E nesta parábola, unidas pelo tema do “banquete”, Mateus juntou duas diferentes: a dos convidados para o “banquete”(vv.1-10) e a do que se apresentou sem o traje adequado (vv.11-14).
A parábola nos diz que um rei preparou um banquete nupcial para o seu filho. Trata-se de um evento de especial grandeza. Estava garantida a quantia de “bois e cevados”, de acordo com o número de convidados. Estranhamente, estes recusaram o convite, com justificativas que em nada justificam. Recusar um tal convite era uma ofensa gravíssima. Como se isso não bastasse, os convidados matam os servos do rei.
Apesar de tudo, a festa foi mantida e os convidados foram outros: os “desclassificados”, este povo que nunca se sentou à mesa de um personagem importante. A mensagem se evidencia: Deus é o rei que convidou Israel para o “banquete” do Reino. Os sacerdotes, os escribas, os doutores da Lei recusaram o convite. Os pecadores, os “desclassificados”, os pobres, os doentes participam do Reino messiânico. Mais uma vez se trata de uma acusação radical das elites religiosas do povo judeu, os grandes convidados para o banquete do rei.
A segunda parábola que, originalmente seria independente da primeira, trata do convidado que se apresentou na festa sem o traje nupcial (vv. 11-14). Este cenário cria dificuldades de compreensão. Se o rei mandou convidar a todos que se encontravam nas ruas e praças, qual o motivo de lançá-lo fora da sala onde se realizava a festa? Consideremos que o Evangelho de Mateus foi escrito após os anos 80 dC. Muitos cristãos já haviam abandonado o entusiasmo inicial, vivendo uma fé sem as obras constitutivas do Reino. Achavam-se já salvos. A alerta do evangelista é clara: para participar do banquete do Reino é preciso estar “revestido” de um estilo de vida que vive os ensinamentos de Jesus. (Sabemos que as “vestes” identificam a pessoa). Quem foi batizado e aderiu ao “banquete” do Reino, mas não veste o traje do amor, da partilha, do serviço, da misericórdia, do dom da vida, está excluído, pois continua com as “vestes” do egoísmo, da arrogância, do orgulho, da injustiça. Quem aceita o convite de participar do “banquete do Rei”, muda completamente a sua vida. Compreende-se porque os primeiros recusaram. Os que aceitam se revestem dos valores do Reino e participam do “banquete de manjares suculentos”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ