26º Domingo do tempo Comum

28/09/2023

 “Filho, vai hoje trabalhar na minha vinha” – Mt 21,28-32 – A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum traz mais uma vez a imagem da vinha e personagens representativos. Os textos que a Liturgia nos oferece são uma convocação para o empenho no cuidado da vinha. No AT, a vinha era símbolo do povo escolhido. No NT Jesus se refere à vinha como imagem do Reino de Deus.

No domingo anterior já vimos a parábola dos trabalhadores da vinha, na qual transparece uma radical ruptura da lógica de Deus com lógica do mundo. Os trabalhadores da última hora recebem o mesmo pagamento dos da primeira hora.

O Evangelho deste domingo tem como cenário geográfico a cidade de Jerusalém, etapa final da caminhada terrena de Jesus. Ele entrara em Jerusalém e fora recebido em triunfo pela “multidão” (cf. Mt 21,1-11). Os líderes religiosos, chefes dos sacerdotes e anciãos se opõem e seduzem o povo a não reconhecer Jesus como o Messias de Deus. Há uma tensão no ar que anuncia a proximidade da paixão e da morte de Jesus.

Do ponto de vista literário, no texto imediatamente anterior ao relato de hoje, Jesus está no Templo e os líderes religiosos questionam sua autoridade para realizar as obras que realiza (cf Mt 21,23-27). Jesus não responde às perguntas, mas lança questões aos seus interlocutores, na tentativa de ajudá-los a pensar. Enquanto os líderes permanecerem com o coração fechado, é inútil dar respostas e o diálogo é impossível.

Em seguida Jesus narra três parábolas: a primeira delas é o texto deste domingo (Mt 21,28-32). Trata-se dos dois filhos enviados a trabalhar na vinha. O primeiro deu uma resposta negativa: “não quero”. No contexto familiar da Palestina, era uma atitude grave dizer “não” ao pai, pois enchia-o de vergonha e colocava sua autoridade em questão. No entanto, este primeiro filho acabou por reconsiderar e seu “não” e foi (vv. 28-29). O segundo filho, diante do mesmo convite, respondeu: “vou, sim, senhor”. Deu ao pai uma bonita resposta que exaltava a autoridade e a “honra” do pai. O moço ficou bem visto diante de todos, que o considerariam um “filho exemplar”. No entanto, não foi (v. 30).

A questão posta, em seguida, por Jesus é: “qual dos dois fez a vontade do pai?” Uma pergunta até desnecessária. A resposta é tão óbvia que os próprios fariseus não têm qualquer constrangimento em dizer: “o primeiro” (v. 31). Teoricamente os fariseus são sábios e bons conhecedores das leis e dos costumes sociais. Qual a questão que está em jogo?

No tempo de Jesus, a parábola certamente é uma denúncia aos fariseus, aos sacerdotes e aos anciãos do Povo, que disseram “sim” a Deus, através da Lei de Moisés e se consideravam irrepreensíveis. Diante da proposta do Reino, sua vida, no entanto, é uma mentira, pois disseram sim, mas não obedeceram a vontade de Deus. Enquanto isto, os que disseram “não” inicialmente, ou seja, os pecadores, os cobradores de impostos e as prostitutas, aceitaram o convite de João à conversão e acolheram a proposta do Reino que Jesus veio apresentar (v. 32). Estes, representados pelo “primeiro filho”, realizam o que é fundamental: fazer a vontade do Pai.

Há uma segunda questão que pode estar em jogo: nos anos 80, quando o evangelho foi escrito, esta parábola serviu para iluminar a situação da comunidade cristã, composta por pessoas de origem judaica, que resistiam em acolher os pagãos. Israel seria esse “filho” que aceitou trabalhar na vinha mas, na realidade, não cumpriu a vontade do Pai, não aderiu aos valores do Reino. Os pagãos seriam esse “filho” que, aparentemente, esteve sempre à margem dos projetos do Pai, disse “não” ao primeiro convite, mas agora aceitou o Evangelho de Jesus e aderiu ao Reino. Trabalhar na vinha do Senhor é o grande convite que Deus nos faz todos os dias.  Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ