25º Domingo do TC

17/09/2020

“Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos” (Is 55,8) – 25º Domingo do Tempo Comum – Mt. 20,1-16a – Após o “discurso da comunidade” (Mt 18) e depois de orientar sobre as atitudes e ações necessárias para vivenciar os valores do Reino (Mt 19),  Jesus continua a instruir os discípulos com mais uma “parábola”, esta um tanto impactante, que rompe com a lógica humana.  O quadro que a parábola nos apresenta reflete a realidade social e econômica dos tempos de Jesus. Na Galileia havia muitos camponeses que, por causa da pressão fiscal ou de anos contínuos de más colheitas, tinham perdido as terras que pertenciam à sua família. Para sobreviver, esses camponeses alugavam a sua força de trabalho, trabalhando em terras de senhores, como “diaristas”. Juntavam-se na praça da cidade e esperavam que os grandes latifundiários os contratassem para trabalhar nos seus campos ou nas suas vinhas. A parábola deste dia tem o cenário da realidade, mas seu desfecho rompe com o que se poderia imaginar. Trata-se de um dono de uma vinha que, ao romper da manhã, se dirigiu à praça e contratou “diaristas” para trabalhar na sua vinha, ajustando com eles o preço habitual: “um denário”. O volume de tarefas a realizar na vinha fez com que este patrão voltasse a sair no meio da manhã, ao meio-dia, às três da tarde e ao cair da tarde. O trabalho, pelo que tudo indica, foi tranquilo e produtivo. Ao anoitecer, os trabalhadores foram chamados diante do senhor, a fim de receberem a paga do trabalho. Todos receberam a mesma paga: “um denário”. Contudo, os trabalhadores da primeira hora manifestaram a sua insatisfação, pois consideravam que eram merecedores de pagamento maior. Sendo os da “primeira hora”, certamente já eram bem conhecidos do senhor, pois já estavam a postos desde cedo. A resposta final do dono da vinha afirma que ninguém tem nada a reclamar se ele decide usar de justiça e misericórdia para com todos os “diaristas”, sem exceção. O contexto desta parábola que rompe com nossos paradigmas de justiça e méritos, certamente foi uma reposta aos que acusavam Jesus de estar muito próximo dos pecadores (os da última hora), pois as elites religiosas se achavam os únicos dignos de salvação. A parábola também é uma denúncia aos fariseus que tinham a concepção teológica de que Deus retribuía os bens conforme as ações humanas. Se a pessoa
cumprisse escrupulosamente a Lei, conquistaria determinados méritos e Deus pagar-lhe-ia convenientemente. Segundo esta perspectiva, Deus não é gratuito, mas é a pessoa que conquista tudo. Tudo que recebe é fruto de seus méritos pessoais. O Deus dos fariseus acabou se tornando uma espécie de comerciante, que contabiliza todas as ações humanas e recompensa conforme os méritos. Para Jesus, Deus é um Pai, cheio de bondade e misericórdia, que ama a todos igualmente e derrama sobre todos a sua justiça e o seu amor. Este ser de Deus rompe com nosso modo de ser e de pensar. “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos.” Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ