22º Domingo do Tempo Comum
Mandamento de Deus ou tradições humanas – Mc 7,1-8.14-15.21-23 – Neste 22º Domingo do TC, voltamos a Leitura do Evangelho de Marcos, no qual o evangelista volta configurar a identidade do discípulo, em confronto permanente com seus opositores, especialmente os fariseus e doutores da lei. O relato deste domingo mostra-nos a reação dos fariseus e dos doutores da Lei à ação de Jesus. Pouco antes, Jesus tinha realizado a multiplicação dos pães e dos peixes (cf. Mc 6,34-44), propondo, com o seu gesto, um mundo novo de partilha, fraternidade e de serviço: o “Reino de Deus”. Os líderes judaicos escolhem os discípulos como alvo das suas críticas, sem enfrentar diretamente a Jesus. Criticam os discípulos por não serem fiéis cumpridores da “tradição dos antigos”.
Estas tradições eram, na maioria, orais e aplicava-se muito conforme interesses pessoais. Na época de Jesus, essa “tradição dos antigos” constava de 613 normas. Essas leis, que o povo tinha dificuldade em conhecer todas e, mais ainda, eram impossíveis de serem observadas, eram, para os fariseus, o caminho para tornar Israel um povo santo e apressariam a vinda libertadora do Messias.
O Evangelho de hoje nos relata esta polêmica de Jesus com os fariseus. Na época em que o Evangelho de Marcos foi escrito, os cristãos vindos do judaísmo, deveriam viver sua fé em Jesus e observar o cumprimento das leis judaicas. Mas para os cristãos vindos do paganismo, esta imposição das tradições judaicas não era aceita. Isto exigiu uma revisão do sentido da Lei, ainda mais que, na época de Jesus havia uma lista imensa de ações que tornavam a pessoa “impura”, como vemos no Evangelho deste dia. Havia uma verdadeira obsessão com os rituais de “purificação”, que deviam ser cumpridos a cada passo da vida diária. Um desses ritos consistia na lavagem das mãos antes das refeições. Não por uma questão de higiene, mas para garantir a “pureza” legal.
Jesus se dirige à multidão e formula o princípio decisivo da autêntica legalidade: “não há nada fora do homem que ao entrar nele o possa tornar impuro; o que sai do homem é que o torna impuro” (v. 15).“Do interior da pessoa é que saem os maus pensamentos: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos estes vícios saem lá de dentro e tornam a pessoa impura” (vv. 22-23). O verdadeiro mandamento de Deus não passa pelo cumprimento de regras externas, que regulam o que a pessoa come ou não come; mas passa por uma autêntica conversão do coração, que leva a pessoa a deixar a vida velha e a transformar-se num Ser Novo, que assume e que vive os valores do Reino. O mandamento de Deus passa pela defesa da vida, do amor, da dignidade. As tradições humanas precisam estar adequadas ao mandato de Deus. Isto os discípulos de Jesus terão que aprender., tanto ontem quanto hoje. Ir.Zenilda Luzia Petry – FSJ