21º Domingo do Tempo Comum

22/08/2024

 

“Palavras duras demais”- Jo 6,60-69 – A liturgia do 21.º Domingo do Tempo Comum nos coloca diante de opções, por vezes “duras demais” para serem compreendidas e seguidas. A primeira leitura é do livro de Josué, onde o líder Josué reúne as tribos de Israel e desafia o povo a escolher entre “servir o Senhor” ou “servir outros deuses”. Seu testemunho é decisivo na opção do povo. O Evangelho, conclusão do capítulo seis de João, coloca os seguidores de Jesus diante de uma decisão: continuar na lógica do mundo buscando apensas satisfazer as necessidades materiais pessoais ou abrir-se à ação de Deus e do Espírito, na disposição de seguir Jesus até as últimas consequências, mesmo sem compreender a extensão de sua proposta. Olhando o Evangelho mais de perto, vemos que depois de Jesus ter saciado a fome da multidão que o seguia, conforme vimos no início do Capítulo, lido no 17º domingo, o povo continua buscando Jesus, mas com motivações equivocadas. Conforme a ideologia oficial, imaginava-se Jesus como messias-rei que iria trazer conforto e pão em abundância para todos, até o fim de suas vidas. Nos demais domingos passados acompanhamos Jesus buscando corrigir os equívocos e João relata o belo “discurso do pão da vida”, no qual Jesus procura deixar clara a sua proposta. Dirige-se às multidões, aos judeus e aos discípulos, personagens presentes no relato, com muita clareza e deixa a todos perplexos. Comer sua carne, beber o seu sangue chega a ser repugnante. Jesus, confessando-se como enviado do Pai, filho de Deus, é inaceitável. Todos conheciam sua origem, sua família, mas Ele não recua e vai mergulhando sempre mais na profundidade do mistério divino. Diante do exposto, o povo reconhece que precisa decidir: ou continuar a viver numa lógica humana, ou assumir a lógica de Deus, fazendo da vida um dom de amor para ser partilhado. Como se pode observar, ao longo do capítulo seis os personagens vão variando: ora são as multidões, ora são os Judeus, ora são os discípulos os seus interlocutores. No Evangelho de hoje são discípulos que murmuram contra a proposta de Jesus. Nem todos os que acompanhavam Jesus estavam dispostos a “comer a sua carne e beber o seu sangue”, ou seja, assumir o projeto de dar sua vida.  O “discurso do pão da Vida”, com todas as suas imagens e esclarecimentos provoca uma forte “crise” no grupo dos discípulos. Eram palavras insuportáveis, pois exigiam renúncia ao seu modo de pensar, aos seus projetos pessoais. Ficam até “escandalizados” com a proposta de Jesus. Apesar das explicações de Jesus, muitos “afastaram-se” definitivamente. A proposta de Jesus não vinha de encontro às suas ambições pessoais. Diante do afastamento de grande parte do grupo, Jesus poderia se adequar um pouco mais ao pensar dos discípulos, fazer algumas concessões, como tanto se faz entre nós humanos. Jesus, porém, em nada cede e questiona os que integram o grupo dos “Doze”: “também vós quereis ir embora?”. Não dá qualquer sinal de suavizar as exigências ou atenuar a radicalidade da sua proposta. Para Jesus, o caminho do amor, do serviço, da partilha, da entrega, é o único caminho por onde é possível chegar à Vida plena… Aos Doze resta apenas aceitar essa proposta ou rejeitá-la. Quem responde, em nome do grupo, é Simão Pedro: “Para quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de Vida eterna”. Pedro representa a comunidade, pois fala em nome do grupo: a quem “iremos”? Não há outro caminho a seguir, mesmo que estas palavras sejam “duras demais”. Só pelo caminho da morte, da entrega por amor, do rebaixamento humano pleno é que se alcança a “vida eterna”. Ir. Zenilda Luzia Petry  – FSJ