21º Domingo do Tempo Comum
A hora é agora – Mt 16,13-20 – O 21º Domingo do Tempo Comum traz novamente o episódio no qual Jesus interroga seus discípulos sobre a opinião pública a respeito da sua pessoa. Trata-se de um relato chave dos Evangelhos, pois não há como ser cristão sem clara adesão a Jesus, de onde nasce a Igreja, organizada em torno de Pedro. A opinião e adesão a Jesus irá constituir a vida e a missão da Igreja. Da confissão de fé em Jesus nasce a Igreja.
O cenário do relato é o Norte da Galileia, perto das nascentes do rio Jordão, em Cesareia de Filipe. A cidade tinha sido construída por Herodes Filipe, no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto. Era uma cidade habitada pela classe mais nobre da Galileia.
O episódio ocupa lugar central no relato do Evangelho de Mateus. Aparece na transição entre os muitos “gestos” e “palavras” de Jesus que atraiam as multidões, e o inicio das evidências de que a cruz será o destino de Jesus. Depois do êxito inicial do seu ministério, Jesus experimenta a oposição dos líderes judeus e um interesse desfocado por parte do povo. A sua proposta do Reino não é acolhida, senão pelo pequeno o grupo dos discípulos. Neste ambiente conflitivo está situado o relato. Jesus questiona os seus, não para medir o ibope de sua popularidade, mas para deixar as coisas mais claras: a hora é agora. “Quem dizem que eu sou”?
Na opinião dos “homens”, Jesus está em continuidade com o passado: “João Baptista”, “Elias”, “Jeremias” ou “algum dos profetas”. Não percebem a novidade de Jesus, a sua originalidade, a boa nova do Reino da qual é portador. Reconhecem que Jesus é um homem convocado por Deus e, como os profetas do Antigo Testamento, foi enviado ao mundo com uma missão. Mas não passa disso. Jesus é um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e, como tantos outros homens antes d’Ele (v. 13-14), era um sinal vivo de Deus, mas não mais do que isto.
Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, faz a confissão plena: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (v. 16). Dizer que Jesus é “o Cristo”, o Messias, significa dizer que Ele é o libertador que Israel esperava, o enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva. Mas para os membros da comunidade do Reino, Jesus é o Messias, mas é mais: é também o “Filho de Deus”.
Dizer que Jesus é o “Filho de Deus” significa que Ele recebe a vida de Deus, que é total comunhão com Deus, que tem uma relação de profunda intimidade. Os discípulos são convidados a entender dessa forma o mistério de Jesus, que saúda Pedro pela clareza da fé que o anima. No entanto, essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de Deus: “não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus”. Pedro (os discípulos) pertence a essa categoria dos “pobres”, dos “simples”, abertos à novidade de Deus, que têm um coração disponível para acolher os dons e as propostas de Deus.
Para que seja possível a Pedro testemunhar o Messias como Filho de Deus e edificar a comunidade do Reino, Jesus promete-lhe “as chaves do Reino dos céus” e o poder de “ligar e desligar”. A entrega das chaves equivale à nomeação do “administrador do palácio”: o “administrador do palácio”, entre outras coisas, administrava os bens do soberano, fixava o horário da abertura e do fechamento das portas do palácio e definia quais os visitantes a introduzir junto do soberano… Por outro lado, a expressão “atar e desatar” era, entre os judeus da época, o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido, para excluir ou reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus. Jesus transfere para Pedro (e para a comunidade) a função de “administrador” e “supervisor” da Igreja. Quem tem autoridade para interpretar as palavras de Jesus e adaptá-las às novas necessidades e situações, para acolher ou não novos membros na comunidade dos discípulos do Reino, não são os detentores da antiga Lei, mas os seguidores de Jesus. Não se trata aqui de dar um poder absoluto a Pedro, mas revelar que o alicerce da Igreja é a adesão ao “Messias”, o “Filho do Deus vivo”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ