21º Domingo do Tempo Comum

19/08/2021

“A quem iremos, Senhor”?(Jo 6,60-69) – A liturgia deste 21º domingo do TC nos traz a questão das opções em nossa vida. Na primeira leitura Josué mostra que adorar o Deus vivo e libertador é uma questão de opção de vida. O mesmo ocorre no Evangelho, quando se trata de assumir ou não a proposta de Jesus.

Estamos no final da narrativa que iniciou com a partilha dos pães e dos peixes (cf. Jo 6,1-15) e que continuou com o “discurso do pão da vida” (cf. Jo 6,22-59). O relato é perpassado por controvérsias e mal entendidos com as multidões, com os judeus e com os discípulos. A multidão esperava um Messias rei, com programa político que restaurasse a independência da nação e saciasse a fome do povo. Os judeus não se abriram a uma possível nova visão do Messias e de suas propostas.Jesus mostrou que não veio apenas para “dar coisas”, mas oferecer-se a si mesmo. Ainda mais: não somente “oferecer-se a si mesmo”, mas convidou ao encontro pessoal, a entrar na sua intimidade, a “identificar-se” com Ele e segui-lo no caminho do amor e do dom da vida até à morte…

Para quem está instalado na sua zona de conforto, nas suas certezas e auto referencialidades, a fala de Jesus gera até uma espécie de vertigem,  pois é uma desconstrução de tudo o que o mundo tem como proposta de vida. A reação natural é de rejeição, de negação, de abandono.

Comer a sua carne e beber o seu sangue”, era algo impensável para os judeus. A narrativa deste dia mostra a reação negativa de “muitos discípulos”: identificar-se com Jesus, assimilar o seu projeto, oferecer a sua vida como dom de amor partilhado com toda a humanidade, é “duro demais” (v. 60) até “escandaloso”. “Isto escandaliza-vos? E se virdes o Filho do homem subir para onde estava anteriormente”? Para os “discípulos”, a proposta de Jesus é excessiva para a força humana. E começam a murmurar”. Eles não estão dispostos a renunciar aos seus projetos pessoais de realização humana e colocar-se no caminho do amor e da entrega, a fazer da própria vida um serviço e uma partilha com os irmãos, como Jesus propõe.

No entanto, Jesus afirma que o caminho que propõe não é um caminho de fracasso e de morte, mas é um caminho destinado à glória e à vida eterna. Isto não é um dom de Deus, oferecido a toda a humanidade (v 65). Se a pessoa não está aberta à ação do Pai e recusa os dons de Deus, não pode integrar a comunidade é fruto do esforço humano, mas dom de Deus que atrai a si os que Ele quer. A vida nova que Jesus propõe dos discípulos e seguir Jesus.

Assim, “muitos discípulos afastaram-se e já não andavam com Ele.” (v. 66). Mostraram-se sem disposição para percorrer o caminho de Jesus. Os “muitos discípulos” não tiveram a coragem para aceitar a proposta de Jesus. É preciso estar continuamente numa atitude de vigilância sobre os valores que norteiam a vida, para não corrermos o risco de “virar as costas” à proposta de Jesus. O caminho do discípulo não é diferente do caminho do Mestre.

Então Jesus pede ao grupo mais restrito dos “Doze” que façam a sua escolha: “também vós quereis ir embora?” (v. 67). Quem responde em nome do grupo, pois fala no plural “nós”, é Simão Pedro: “ A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (v.68). E a narrativa se encerra com a confissão de fé de Pedro, mais uma vez como porta voz da comunidade: “Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus” (v.69). Alcança-se então o ideal do Evangelho de João: crer e ter vida.

Assim se conclui a leitura do capítulo seis do Evangelho de João, esta inserção, por quatro domingos, no Evangelho de Marcos. No próximo domingo voltamos ao evangelho do Ano B que nos ajuda a conhecer melhor o caminho do seguimento de Jesus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ

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