1º Domingo da Quaresma

06/03/2025

Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se  –  Lc 4,1-13 – Estamos iniciando o caminho quaresmal, um tempo especial para repensar nossas vidas, nossas opções e nos aproximarmos mais de Deus. No Brasil, a Campanha da Fraternidade nos indica meios concretos para esta aproximação. Neste ano, o grande apelo é o reconhecimento de Deus na criação e, assim, louvá-lo por esta beleza, fazendo um caminho decidido de conversão ecológica. Deus viu que tudo era bom. A primeira leitura, do livro do Deuteronômio, é um ato de fé no Deus providente, que é fonte de vida em abundância, proporcionado pelos primeiros frutos da terra. No primeiro domingo da Quaresma a Igreja sempre nos traz o relato das “tentações de Jesus”, um relato da finitude de Jesus que vê a possibilidade de não ser fiel ao projeto divino e optar pela primazia dos bens materiais. Os Evangelhos Sinóticos situam as tentações entre o Batismo e o inicio de sua pregação, embora descritas de formas diversas. Mesmo com consideráveis diferenças, os relatos mostram que no batismo é revelada a identidade e missão de Jesus: “tu és o meu filho muito amado; em ti pus todo o meu agrado.  É muito provável que Jesus, após o seu batismo no rio Jordão, tenha se retirado para algum lugar deserto para refletir sobre sua identidade e missão. Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se. Marcos apenas diz que Jesus foi “tentado”. Mateus e Lucas descrevem com mais detalhes, mas com diferenças significativas entre si. Como se pode supor de imediato, os relatos da tentação não devem ser lidos como uma descrição histórica, com um “diabo” em disputa de poder com Jesus. É preciso ler por trás das palavras. Certamente Jesus, como qualquer ser humano, viveu uma luta interior entre assumir ser “Filho amado do Pai” e, como servo, realizar o projeto do Pai, ou seguir pelo caminho do poder. O diabo busca colocar em dúvida a filiação divina: “se és o Filho de Deus”. Esta dúvida mostra a finitude humana de Jesus. Mais tarde, quem sabe, Jesus tenha partilhado sua experiência de obscuridade com os discípulos, para mostrar que também eles, sofrendo esta luta interior, terão que tomar decisões diante da proposta do mundo ou do Reino. Essa experiência de Jesus deve ter impressionado seus seguidores. Com recursos culturais conhecidos na época, relataram esta luta interior como “tentações do demônio”. As comunidades primitivas certamente se viam em situações semelhantes. Tentadas em sua fidelidade à proposta de Jesus, ou seguir a lógica humana de poder e projeção. É da condição  humana sofrer tentações. Importante é “não cair na tentação”. Pode ainda nos causar estranhamento que seja o Espírito a conduzir Jesus ao deserto para ser tentado. Na primeira tentação, Jesus é induzido a optar pelos bens materiais e desafiado a usar a sua condição divina para satisfazer as suas necessidades básicas. Na segunda, Jesus é convidado a escolher um caminho de poder, de domínio, de prepotência, ao estilo dos grandes da terra. Na terceira, a proposta é a de usar a sua proximidade com Deus, no Templo, para provocar uma exibição de grande repercussão. Jesus, conduzido pelo Espírito, faz sua opção clara de ser quem é: “Filho amado do Pai”, fiel ao projeto divino. A tentação não foi um episódio isolado na vida de Jesus: “Então o diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo. O demônio não desiste facilmente. Ao longo da vida de Jesus, ele se manifestou de diversas formas, inclusive por meio de Pedro. O mesmo ocorre com seus seguidores.  O que importa é se deixar conduzir pelo Espírito de Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ