19º Domingo do Tempo Comum
Tu és verdadeiramente o Filho de Deus – Mt 14,22-33 – A liturgia deste Domingo nos ajuda a professar a fé de que Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus. A primeira leitura narra o episódio da vida do profeta Elias que, deprimido e sentindo-se fracassado, foi buscar refúgio no Monte Horeb, lugar tradicional de revelação divina, que se manifestaria no “vento” ou no “terremoto” ou no “fogo. Estas manifestações espetaculares, porém, não revelaram o verdadeiro rosto de Deus. A brisa leve, ou seja: o silêncio, a humildade, a simplicidade, a interioridade são os novos espaços da revelação divina.
O Evangelho nos traz a experiência dos discípulos que, enviados à “outra margem”, sofrem as mais diversas adversidades. Um relato que constitui como que uma fotografia da realidade das comunidades cristãs primitivas, que sofrem as mais diversas perseguições, desencadeadas pelo Império Romano, pelo judaísmo oficial e até por desavenças internas.
Do ponto de vista literário, o texto segue ao relato da partilha do pão, narrativa do 18º Domingo que, neste ano, foi substituído pelo Evangelho da Transfiguração. Alimentar uma multidão gera entusiasmo e admiração. Certamente os discípulos sentiram-se atraídos por este sucesso e queriam continuar ali no meio do povo, recebendo o reconhecimento. Jesus certamente percebeu a necessidade de conter o entusiasmo e “obrigou os discípulos a subir para o barco e a esperá-lo na outra margem”. O texto é claro: “obrigou-os”. É possível que eles não quisessem ir e desejavam ficar com o povo. O ficar com a multidão foi assumido por Jesus que, despediu o povo e “subiu a um monte, para orar a sós”.
Mateus, diferente de Lucas, só se refere à oração de Jesus por duas vezes: no relato deste domingo e no episódio do Getsêmani (cf. Mt 26,36). Dois momentos de decisivas opções. Enquanto Jesus está em diálogo com o Pai, os discípulos estão sozinhos, em viagem pelo lago, de noite, o barco açoitado pelas ondas, com vento contrário. Jesus não está com eles. Um relato que precisa ser lido “por traz das palavras”. Trata-se certamente de uma metáfora para descrever a comunidade de Mateus, bem como todas as nossas comunidades de ontem e de hoje. O navegar pelas “águas do mar da vida” não é fácil. E tantas vezes não se sente a presença de Jesus. Em Marcos, ele dorme na proa do barco (cf Mc 4,38). Em Mateus foi para a montanha, deixando os discípulos a sós. Uma catequese com muitos elementos ilustrativos: A “noite” representa as trevas, a escuridão, a confusão, a insegurança em que tantas vezes os discípulos de Jesus “navegam” através da história. As “ondas” que açoitam o barco representam a hostilidade do mundo, que bate continuamente contra o barco em que os discípulos viajam. Os “ventos contrários” representam a oposição, a resistência do mundo ao projeto de Jesus. É esta, tantas vezes, a situação da Igreja que prossegue nas águas do mar desta vida. O desespero é tão grande que Jesus lhes parece um fantasma.
A expressão “sou Eu” é eco da revelação de Deus a Moisés (cf. Ex 3,14). A exortação “tende confiança, não temais”, é a certeza de que, estando com Jesus, não há o que temer. Mateus ainda narra o diálogo entre Pedro e Jesus (vv.28-33). Trata-se de uma exclusividade de Mateus: “se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas”. Pedro sai do barco e vai ao encontro de Jesus; mas, assustando-se com a violência do vento, começa a afundar e pede a Jesus que o salve. Pedro representa todas as comunidades fragilizada em sua fé e que se debatem entre a confiança em Jesus e o medo. Começam a afundar-se e a ser submersos pelo “mar” da morte, da frustração, do desânimo, da desilusão… Jesus, porém, estende a mão e resgata-os. Finalmente, a desconfiança dos discípulos transforma-se na mais profunda profissão de fé: “Tu és verdadeiramente o Filho de Deus” (v. 33). Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ