19º Domingo do Tempo Comum – 08/08/2021
O Pão da plena vida – Jo 6,41-51 – Neste 19º Domingo do Tempo Comum continuamos com a leitura do sexto capítulo do Evangelho de João. Numa linguagem característica do 4º Evangelho, os simbolismos que revelam a pessoa de Jesus vão sendo apresentados progressivamente pelo evangelista: “Jesus é a água viva” (cf. Jo 4), é o “pão” (cf Jo 6), é a “luz” (cf Jo 9), é o “bom pastor” (cf Jo 10), é a “vida e ressurreição” (cf Jo 11). Estas afirmações têm sempre um cenário de controvérsias, de conflitos, de oposição. Jesus afirma o que seus interlocutores judeus negam ou questionam.
O texto deste domingo está situado num destes cenários de confronto entre Jesus e os judeus. Após o sinal da “partilha dos pães e dos peixes” Jesus, na sinagoga de Cafarnaum (cf. Jo 6,22-40), buscou fazer compreender a sua ação, não como “milagre” de “multiplicação de pães’, mas como um “sinal” de uma proposta de vida alternativa, de partilha e de vida plena. Ele é o Pão da vida” e quem dEle se nutrir nunca mais terá fome.
Os Judeus não aceitam que Jesus se declare como “o pão que desceu do céu”. Eles conhecem a sua “origem humana”, sabem que o seu pai é José, conhecem a sua mãe e a sua família; e, na sua perspectiva, isso exclui uma origem divina (v. 41). Logo, não podem aceitar que Jesus diga trazer a vida de Deus. Curioso é que Jesus não entra na discussão da sua origem divina. Sabe que é inútil discutir com quem se coloca num esquema de auto-suficiência e de orgulho, e se acha certo de sua verdade. Os judeus, instalados nas suas certezas, amarrados às suas seguranças, acomodados a um sistema religioso ritualista, estéril e vazio, já decidiram que não têm fome de vida e que não precisam do “pão” de Deus. Jesus aproveita a oportunidade para mostrar que seus adversários têm o coração bloqueado para Deus e uma mente vazia de valores divinos. Não estão, portanto, dispostos a acolher Jesus, “o pão que desceu do céu” (cf vv. 43-46).
“Eu sou o pão da vida” (v.48). A expressão “Eu sou” é uma fórmula de revelação que manifesta a origem divina de Jesus, pois faz memória da revelação feita a Moisés, o Deus libertador. Quem opta por Jesus e acredita nEle (v 47) encontra a vida definitiva. O que é decisivo, neste processo, é o “acreditar, isto é, optar por Jesus e pelos valores que Ele veio revelar.
Para sublinhar esta realidade, Jesus estabelece um paralelo entre o “pão” que Ele veio oferecer e o maná que os israelitas comeram ao longo da sua caminhada pelo deserto, que nem assegurou a entrada na terra prometida. O “pão” que Jesus oferece levará a humanidade a alcançar a vida plena (cf vv. 49-50). “Vida plena”, “vida eterna” não significa um “tempo sem fim”, mas uma qualidade de vida de plenitude, de vida do eterno em nós. Para que a humanidade tenha acesso a esta vida plena, Jesus vai dar a sua “carne (v. 51), ou seja, a sua pessoa, os seus gestos concretos de amor, de bondade, de cuidado, de misericórdia.
Num mundo tão dilacerado pela injustiça, violência, falta de respeito e sensibilidade, dilacerado pelo egoísmo e luta pelo poder domínio, a “carne” de Jesus precisa ser alimento na mesa da humanidade. Só então teremos acesso à vida plena. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ