18º Domingo do Tempo Comum
“Eu sou o pão da vida” – Jo 6, 24-35 – As leituras deste 18º domingo do Tempo Comum nos revelam exemplarmente que Deus sempre cuidará de saciar a nossa fome de pão e de vida. Desde a experiência do deserto, vemos que o povo sobreviveu graças ao maná que, além de alimentar, ajudou o povo a crescer, a amadurecer, a superar a mentalidade egoísta de acúmulo. Superar as formas de egoísmo presentes no ser humano é o grande desafio para se viver o projeto de Deus. O evangelho deste dia está em continuidade ao do domingo anterior. O “sinal” que Jesus realizou, ao saciar a fome das multidões, com “cinco pães de cevada e dois peixes”, vai sendo aprofundado em seu sentido para além das palavras. Como é próprio do Evangelho de João, Jesus realiza “sinais” e não “milagres” como se afirma nos Sinóticos. É próprio do “sinal” indicar caminhos para além do que se vê. É preciso ler através dos sinais. Depois da partilha dos pães e dos peixes, Jesus, “sabendo que estavam prestes a vir apoderar-se dele para o fazer rei, retirou-se sozinho para o monte”. Assim se concluía o evangelho da semana anterior. Jesus percebe a dificuldade das multidões, e mesmo dos discípulos, para a compreensão dos sinais que realiza, ou das palavras que pronuncia. Olhando mais de perto o relato deste domingo, temos como cenário Cafarnaum, no dia seguinte ao da partilha do pão. Passada a noite, a multidão que tinha sido agraciada com os pães e os peixes, foi a Cafarnaum. Jesus estava na sinagoga e, certamente, os acontecimentos do dia anterior foram tema de muitas conversas. Sentindo que era necessário deixar as coisas bem claras, Jesus teve uma longa fala com seus discípulos e toda aquela gente. É o conhecido “discurso do pão da vida” (cf. Jo 6,22-59). Nosso texto mostra o entusiasmo da multidão, que quer permanecer com Jesus. As motivações são um tanto fora de propósito. O gesto de repartir os pães e os peixes lançou aquela gente num perigoso equívoco, que precisa ser corrigido. Jesus não responde à pergunta inicial: “Mestre, quando chegaste aqui?” mas logo vai além: “em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados”. Pensam em si somente e não percebem que a divisão dos pães e dos peixes era um sinal, uma lição sobre o amor, a partilha, a generosidade e o serviço. A multidão não entendeu o significado profundo do gesto, não entendeu o “sinal” de Jesus. Então Jesus busca esclarecer o sentido do sinal: “trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à Vida eterna e que o Filho do homem vos dará”. É necessário engajar-se na busca, não só do alimento físico, mas do alimento que sacia a profunda fome de vida. Os ouvintes parecem interessados e querem mais esclarecimentos: o que é preciso fazer para ter acesso a esse pão? Que obra é necessário realizar? Certamente estão pensando nas “obras” da Lei judaica a serem cumpridas com perfeição. A proposta de Jesus é outra: é “acreditar n’Aquele que Deus enviou” e acolher o projeto do Reino de Deus. Mas isto não é compreendido mais uma vez: “Que milagres fazes Tu, para que nós vejamos e acreditemos em Ti?” Querem provas e gestos espetaculares, como o maná do deserto. Jesus busca desfazer qualquer equívoco: “Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu; meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do Céu”. Certamente crescia a incompreensão da multidão. Então Jesus conclui com a grande proclamação: “Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede”. Jesus é o verdadeiro pão que traz plenitude de vida e sacia a fome da humanidade. Mas isto vai ser reafirmado de várias formas ao longo do “discurso do pão da vida”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ