17º Domingo do Tempo Comum

25/07/2024

Estava próxima a Páscoa” – Jo 6,1-15 – A liturgia do 17º domingo do Tempo Comum coloca-nos diante de uma das necessidades fundamentais da vida humana e que Deus assume como a grande causa do projeto do Reino: o alimento para nosso corpo. A “fome” do povo move o coração de Jesus que se enche de compaixão e mostra que a partilha é o caminho a ser seguido pela humanidade. Na primeira Leitura temos o profeta Eliseu que distribui pão para as pessoas que o rodeiam. O Refrão do Salmo de meditação reza esta generosidade de nosso Deus: Abris, Senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome”. O Evangelho deste domingo e dos próximos, interrompe a narrativa de Marcos e nos mergulha no capítulo seis do Evangelho de João. O cenário do relato do Evangelho é “a outra margem” do Lago de Tiberíades. Não se sabe bem qual seria esta “outra margem”. Certamente não se trata de região pagã; tudo indica ser nas proximidades de Cafarnaum. O evangelista informa que “estava perto a Páscoa, a festa dos judeus”. Era a festa mais importante do calendário judaico: celebrava-se a libertação da opressão do Egito. A festa congregava multidões, vindas de todas as partes. Jesus celebrou três páscoas durante sua vida pública. Foi a Jerusalém na primeira (cf Jo 2,13 -22)  e na terceira (cf 13,1s). Na segunda Jesus não vai a Jerusalém, mas fica na Galileia.  Uma leitura mais atenta do texto mostra que a celebração da Páscoa perdera seu sentido originário. Deveria ser a celebração da libertação, mas o povo estava na escravidão, gerada pela fome, pelas injustiças, pelo abandono, pela falta de saúde. Diversos aspectos mostram uma profunda relação da Páscoa originária com a nova Páscoa proposta por Jesus. Há uma referência à “passagem do mar” no AT e  agora há a ordem de ir até à “outra margem”. Jesus quer fazer o Povo que o acompanha passar da terra da escravidão para a terra da liberdade, ou seja, para a “outra margem”. Chegando à outra margem, Jesus subiu a “um monte e sentou-se lá com os discípulos”. É possível ver aqui uma recordação do Monte Sinai, onde Deus propõe uma vida nova. O evangelista informa ainda que Páscoa estava próxima, ou seja, a memória da libertação se faz atual. A multidão que segue Jesus tem fome e não tem o que comer. Mais um eco do Êxodo, quando o povo no deserto sentiu fome. Para atender a necessidade do povo, Jesus envolve o grupo dos discípulos. Eles precisam organizar o povo, como no deserto, e assumir a responsabilidade diante da fome. Uma aprendizagem vivida na caminhada do deserto, mas que os discípulos ainda não interiorizaram. Eles pensam em termos econômicos. Filipe, em nome do grupo, constata a impossibilidade de resolver o problema: “duzentos denários não bastariam para dar um pedaço a cada um”. O dinheiro de mais de meio ano de trabalho não dá para saciar um povo faminto. André é um discípulo que vê outra possibilidade, mas sem muita convicção: “um menino” tem cinco pães de cevada e dois peixes. “Mas que é isso para tanta gente?”. É um “menino” que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Se fosse um adulto, poderia indicar ser alguém com mais possibilidades de ajudar. Mas é um menino, alguém fraco e socialmente excluído. Ele tem “cinco pães de cevada”. Cevada é o pão dos pobres. Os números “cinco” e “dois,  também não aparecem por acaso: a sua soma dá “sete”, ou seja, a “totalidade”. É na partilha da totalidade que se sacia a fome. Uma vez saciada a fome do mundo, os discípulos são chamados a outras tarefas. Há sobras que não se podem perder e eles devem recolher. A referência aos “doze cestos” recolhidos pode ser um símbolo para ensinar que a partilha do que se recebeu de Deus pode satisfazer a fome de toda a gente. Frente ao sistema que se baseia no lucro e na exploração, Jesus propõe uma nova atitude: substituir o egoísmo pelo amor e pela partilha fraterna. Esta é a verdadeira Páscoa. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ