17º DOMINGO DO TEMPO COMUM

23/07/2020

O Reinado de Deus – Mt 13,44-52 – Celebramos o 17º Domingo do Tempo Comum e encerramos, como que com “chave de ouro”, o capítulo 13 de Mateus, as sete  parábolas sobre o reinado de Deus. Podemos afirmar, com toda certeza que, para bem compreender estas parábolas, é preciso estar imbuída/o de uma paixão pelo “reinado de Deus”. Quem não cultiva esta utopia, não vê sentido naquilo que Jesus proclama. Ele mesmo louva o Pai porque os “pequeninos compreendem os mistérios do reino”, enquanto os “sábios e entendidos” nada compreendem (cf. Mt 11,25). São autossuficientes e cultivam um “reinado próprio”. Aos que estão nas trilhas do Reinado de Deus, Jesus hoje recomenda que façam do Reino a sua prioridade fundamental, o seu maior tesouro. Todos os outros valores e interesses devem passar para segundo plano, face a esse “tesouro” supremo que é o Reino. O texto deste domingo nos  apresenta três parábolas que são “exclusivas de Mateus”: a parábola do tesouro, a da pérola e a da rede e dos peixes. Para uma melhor compreensão da mensagem, convém olhar a realidade da comunidade para a qual o Evangelho foi escrito. Estamos no final do primeiro século cristão. Passaram-se mais de trinta anos após a morte de Jesus. O entusiasmo inicial deu lugar à rotina, à falta de empenho,  a uma vida pouco exigente e menos comprometida. Há sinais da chegada de tempos difíceis, de perseguição e de hostilidade, e os cristãos não estão preparados para enfrentar as dificuldades. É preciso renovar o compromisso e recolocar o horizonte do Reino como o grande “tesouro” a ser perseguido. As parábolas do Reino que hoje nos são propostas devem ser lidas neste contexto. As imagens usadas nas parábolas são sempre de “coisas pequenas”: semente, grão de mostarda, etc. Hoje temos a do “tesouro escondido” e da “pérola preciosa”. Mesmo sendo de grande valor, é pequeno no seu aspecto. Naturalmente os ouvintes compreendiam bem a comparação, pois “pedras preciosas” ainda hoje são cobiçadas na Palestina. A parábola do tesouro escondido e da pérola preciosa mostram que o Reino de paz, de amor, de fraternidade, de serviço, de reconciliação que Jesus veio anunciar é um “tesouro precioso’, para o qual se deixa tudo e se relativiza tudo o mais. O Reino de Deus é o maior tesouro que alguém possa adquirir. Segue a última das parábolas presentes em Mt 13: de uma rede que, lançada ao mar, apanha diversos tipos de peixes (vv. 47-50). A parábola apresenta um ensinamento semelhante ao do trigo e do joio: o Reino não é propriedade só de uns, considerados justos,  mas é uma realidade onde o mal e o bem crescem juntos. Deus respeita as opções pessoais e espera a mudança de foco na vida. Ele não quer a morte do pecador; dá às pessoas o tempo necessário para amadurecer as suas opções e fazer as suas escolhas livres. O breve diálogo entre Jesus e os discípulos encerra todo o Capítulo. O verdadeiro discípulo de Jesus é aquele que sabe tirar de “tesouro” o essencial em vista do Reinado de Deus. Mais uma vez o Evangelho convida-nos a contemplar os mistérios do Reino e o modo do agir divino: Deus não tem pressa em condenar e destruir, nem de intervir em nossas opções. Daí  a  importância de deixar nos iluminar pela Sua Palavra, particularmente nestes tempos de epidemia. A  morte e a vida caminham juntos e o reino de Deus tem sua lógica própria. Deus nos faz “esperar contra toda esperança” (cf Rm 4,18). Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ