16º Domingo do Tempo Comum

18/07/2024

 “Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se” – Mc 6,30-34 – A liturgia do 16º domingo do Tempo Comum é de um forte apelo para o fundamental de nossas vidas. A compaixão e a ação em defesa da vida são traços de uma identidade verdadeiramente humana. A primeira leitura nos vem do profeta Jeremias, alguém de extrema sensibilidade e de aguçada sabedoria. Denuncia a falta de cuidado das ovelhas, cujos pastores só dispersam o rebanho. A segunda leitura, da Carta aos Efésios, proclama que o verdadeiro pastor congrega os povos dispersos. O Evangelho mostra a compaixão de Jesus pelas ovelhas que foram abandonadas pelos pastores, cuja tarefa era cuidar, congregar, conduzir. A narrativa deste domingo está em continuidade ao do domingo anterior, apesar de, literariamente, haver uma pausa no relato. Depois do envio dos Doze em missão (cf. Mc 6,6b-13), o evangelista insere a questão da identidade de Jesus (6,14-16) e o martírio do Batista (6,17-29). Segue com o regresso dos Doze que contam a Jesus “o que tinham feito e ensinado”. Eles partiram porque Jesus os enviou; anunciaram a Boa notícia que lhes foi confiada por Jesus; apresentam a Jesus o “relatório” detalhado do que fizeram. A missão é de Jesus. Agora Jesus convida-os a irem com Ele para um lugar isolado e descansarem um pouco. A missão precisa ser avaliada e a comunhão com Jesus intensificada. O descanso também  se faz necessário, pois  “havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer”. Há o risco de exaltação da subjetividade, assumindo a postura de se crer proprietária da missão. O “ativismo” e apropriação da ação missionária ameaça  o sentido da missão. Mas este descanso foi breve. As “multidões”, ao verem para onde o barco se dirigia, a pé, contornaram o lago da Galileia e correram para o lugar onde o barco ia atracar. “Multidões”, vocábulo tantas vezes empregado pelos Evangelhos, não significa “muita gente”, como se poderia imaginar. “Multidões” é vocábulo empregado para identificar os pobres, os excluídos, os anónimos, os que não tem uma clara identificação. Outros grupos são sempre nomeados: os “fariseus”, os “doutores”, os “saduceus”, até mesmo os “judeus”. Estas multidões de pobres, de famintos, doentes, estão como “ovelhas sem pastor”. Os “pastores” não cuidam destas ovelhas.  Diante daquele quadro, Jesus “comoveu-se profundamente”. Esta comoção profunda é comparada à comoção da mãe para com seu filho em seu ventre. A “comoção profunda” de Jesus diante daquela multidão é um estremecimento interior, fruto de um amor entranhado. Não é apenas um sentimento; é muito mais profundo. É assim que Deus reage diante de seus filhos e filhas, quando os vê frágeis e famintos, abandonados e excluídos. Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se. Mais do que nunca, Jesus deve estar comovido profundamente diante da realidade das “multidões” dos tempos atuais. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ