16º Domingo do Tempo Comum
A paciência divina – Mt 13,24-43 – O Evangelho deste domingo continua com as “parábolas do Reino”. Já vimos, no domingo passado, porque é que Jesus falava em “parábolas”: era uma linguagem rica, expressiva, questionante. É uma excelente linguagem para momentos de controvérsias, muito própria para contextos polêmicos. A “parábola” faz a pessoa pensar e provoca a busca da verdade. Também é uma linguagem privilegiada para apresentar o ”mistério do Reino”.
São três as parábolas que nos são propostas neste 16º domingo: a do grão de mostarda, a do fermento e a do trigo e do joio; esta terceira só é narrada por Mateus.
E é a parábola do trigo e do joio (vv. 24-30) que abre o conjunto das parábolas deste domingo. Certamente tem um objetivo especial. O cenário é da vida quotidiana da agricultura: há um “senhor” que semeia boa semente no seu campo; há um “inimigo” que semeia o joio e tem os “servos” que são muito atenciosos. Tudo dentro de uma lógica bem normal. O anormal é a reação do “senhor” frente ao problema: dá ordens para que deixem crescer trigo e joio, lado a lado, e que só na hora da colheita seja feita a seleção do bom e do mal, do que é para queimar e do que é para guardar nos celeiros. Para nós fica difícil compreender tal procedimento, pois o natural é limpar o campo para que o trigo cresça bem.
Para melhor compreendermos, olhemos então para o contexto da época do ministério de Jesus. Ele conviveu com pecadores, doentes, impuros, sentou-se à mesa com gente desclassificada, deixou-se tocar por impuros, por pecadores públicos. Com esse comportamento “escandaloso”, Ele disse a todas as pessoas excluídas pela religião oficial, que Deus as amava e que as convidava a fazer parte da sua família, a integrar a comunidade da salvação, a serem membros de pleno direito da comunidade do “Reino”.
Os fariseus consideravam inaceitável a atitude de Jesus. Para eles, quem não cumpria a Lei tinha de ser excluído, “arrancado” do “campo” santo de Deus. A “lógica” dos fariseus não se adequava à “lógica” de Deus, que inclui a todos.
Nesta parábola, Jesus ensina que a “lógica” de Deus não é uma “lógica” de destruição, de segregação, de exclusão, mas é uma “lógica” de amor, de misericórdia, de tolerância. O Deus de Jesus Cristo é um Deus paciente e misericordioso, lento para a ira e rico de misericórdia, que dá sempre às pessoas todas as oportunidades para refazer a existência e para integrar plenamente a comunidade do “Reino”.
Olhando mais de perto os personagens da parábola, que tem traços de alegoria. O “senhor” da parábola é esse Deus paciente, que dá aos seres humanos todas as oportunidades, que não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva. Os “servos”, com excesso de zelo, representam as lideranças religiosas, que são pessoas rígidas e intolerantes, incapazes de olhar o mundo e o coração das pessoas com a bondade, a serenidade e a paciência de Deus. O “campo” é o mundo e a história, onde coexistem os sinais de esperança, de vida, de amor que tornam este mundo mais belo e mais feliz (trigo) e os sinais de morte, responsáveis pelo sofrimento, pela opressão, pela escravidão (joio). É também o coração de cada uma ou um de nós, capazes de opções de vida e capazes de opções de morte.
O Evangelho deste domingo propõe-nos ainda duas outras parábolas: a parábola do grão de mostarda (vv. 31-32) e a parábola do fermento (v. 33). São duas parábolas muito semelhantes. Trata-se de um dinamismo da vida nova do Reino, que começa como o fermento na massa, ou uma pequena semente que foi lançada à terra, numa província obscura e insignificante da Palestina, dominada pelo império romano, mas que vai lançar as suas raízes, invadir toda a história da humanidade e fará surgir um mundo novo. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ