15º Domingo do Tempo Comum

13/07/2023

A fecundidade da Palavra – Mt 13,1-23 – Na liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum temos o Evangelho conhecido como a “parábola do semeador” (cf Mt 13,1-23). Curiosamente, o Capítulo 13 de Mateus contém sete parábolas e seis delas iniciam com a expressão: “o Reino dos céus”. Estamos diante de um grande ensinamento sobre o Reino de Deus do Evangelho de Mateus, realidade misteriosa que o simples raciocínio não alcança definir.

 A mensagem central deste domingo é a força da Palavra de Deus em nossa vida. Isto já se evidencia na primeira leitura de Is 55,10-11, que garante a fecundidade da Palavra de Deus. E o Evangelho, por meio de uma parábola, mostra que a semente germina sempre e que sua fecundidade depende de certas condições e disposições.

Olhemos mais de perto o que significa “falar em parábolas”, uma linguagem que usa imagens ou comparações, através das quais se busca transmitir uma determinada mensagem ou ensinamento. A maioria das parábolas tem como recurso a realidade da vida agrícola da Palestina, bem conhecida pelos ouvintes. A linguagem, em parábolas, não foi inventada por Jesus. É comum aos povos do Oriente Médio, que preferem se comunicar através de imagens, comparações, alegorias e menos por discursos lógicos, da cultura grega ocidental. É uma linguagem mais rica, alimenta a imaginação e não se reduz a definições.

            Contextualizando nosso Evangelho: Mateus coloca esta parábola num contexto em que a proposta de Jesus parece condenada ao fracasso. No domingo passado vimos Jesus louvando ao Pai por revelar os mistérios do Reino aos “pequeninos”. Os “sábios e entendidos” das cidades do Lago (Corozaim, Betsaida, Cafarnaum) tinham rejeitado a sua pregação (cf. Mt 11,20-24). Os fariseus acusavam Jesus por não respeitar o sábado e queriam matá-lo (cf. Mt 12,1-14). Acusavam também de agir, não pelo poder de Deus, mas pelo poder de Belzebu, príncipe dos demônios (cf. Mt 12,22-29); não acreditavam nas suas palavras e exigiam d’Ele “sinais” (cf. Mt 12,38-45). O “Reino” anunciado sofria grande contestação e parecia que se encaminhava para um grande fracasso. Neste contexto temos parábola do semeador e as demais parábolas do reino, do capitulo treze de  Mateus.

A parábola do semeador e da semente é uma das mais conhecidas e emblemáticas das parábolas de Jesus. Do ponto de vista literário, o texto do Evangelho de hoje vai um pouco além de uma parábola em si. É mais uma alegoria… Apresenta três partes: a) a parábola como tal (vv.1-9), b) seguido de um conjunto de “ditos” sobre a função das parábolas (vv. 10-17) c) e a explicação da mesma (vv. 18-23). Essa parábola, muitas vezes, é interpretada de forma um tanto moralista, apenas focada no tipo de terra que somos individualmente.

As comparações partem de técnicas agrícolas usadas na Palestina de então: primeiro, o agricultor lançava a semente à terra; depois, é que passava a arar o terreno. Assim compreende-se porque é que uma parte da semente pôde cair “à beira do caminho”, outra em “lugares pedregosos onde não havia muita terra” e outra “entre os espinhos”. Evidentemente, as diferenças do terreno significam, nesta “comparação”, as diferentes formas como é acolhida a semente. No entanto, isso não é o mais significativo: o que é verdadeiramente impactante é a quantidade espantosa de frutos que a semente lançada na “boa terra” produziu…Na época, uma colheita de “sete por um” já era considerada muito boa. Os “cem”, “sessenta” e “trinta por um” são algo surpreendente, exagerado, milagroso. Jesus assim diz aos discípulos e às multidões que estão “cansadas e abatidas: “Coragem! Não desanimem, pois apesar do aparente fracasso, o ‘Reino’ é uma realidade que supera toda lógica humana.

Na explicação da parábola temos uma reflexão sobre as diversas atitudes com que se acolhe ou não, a Palavra de Jesus. Há certamente uma identificação com os “sábios e entendidos”, ou seja, os fariseus e doutores da lei, que conhecem a semente, mas a deixam cair “na beira do caminho”, entre “espinhos”, ou em “terreno pedregoso”. Os “pequeninos” constituem a “terra boa” que torna a semente fecunda. A qualidade da semente e a atitude do semeador não são consideradas, mas o foco está na qualidade da terra, condição para a fecundidade da semente. O coração simples e aberto é terreno propicio para a semeadura do Reino. ( Ir. Zenilda L. Petry)