14º Domingo do Tempo Comum
“Vinde a mim” – Mt 11,25-30 – Neste 14º domingo do Tempo Comum, somos agraciados com um texto do Evangelho de Mateus que, certamente, já lemos diversas vezes e que, à primeira vista, é um texto muito consolador, especialmente se for lido fora de seu contexto literário. Se olharmos mais de perto, vemos que o texto se situa em ambiente de grandes conflitos. No relato anterior ao de hoje (cf. Mt 11,20-24), Jesus havia dirigido uma dura crítica aos habitantes de algumas cidades próximas do lago de Tiberíades (Corozaim, Betsaida, Cafarnaum), porque eles haviam visto as ações de Jesus e tinham se mantido indiferentes. Eram pessoas cheias de si mesmas, obcecadas em suas certezas, instaladas nos seus preconceitos e não aceitavam serem questionadas. Não abriam o coração à novidade de Deus. Jesus percebe que sua proposta, rejeitada por estes senhores, encontrava acolhimento entre os pobres e marginalizados, aqueles que estavam desiludidos com a religião “oficial” e que suspiravam pela alegre noticia do Reino.
O texto inicia com uma oração de louvor que Jesus dirige ao Pai, porque Ele escondeu “estas coisas” aos “sábios e inteligentes” e as revelou aos “pequeninos”. Os “sábios e inteligentes” são certamente esses “fariseus” e “doutores da Lei”, que absolutizavam a Lei judaica, que se consideravam justos e dignos de salvação porque cumpriam escrupulosamente a Lei e suas tradições. Eram tão “sábios”, que não estavam dispostos a sequer questionar o sistema religioso criado que, segundo a tradição, lhes garantia a salvação.
Os “pequeninos” são os discípulos, os primeiros a responder positivamente à oferta do “Reino”; e são também esses pobres e marginalizados (os doentes, os publicanos, as mulheres de má vida, o “povo da terra”) que Jesus encontrava todos os dias pelos caminhos da Galileia, considerados malditos pela Lei, mas que acolhiam, com alegria e entusiasmo, a proposta libertadora de Jesus.
Segue a explicação do que foi escondido aos “sábios e inteligentes” e revelado aos “pequeninos”. Trata-se do “conhecimento”, palavra que, na visão bíblica, tem o sentido de “experiência profunda e íntima”. Os “pequeninos” tem relação de intimidade com Deus. Os “sábios e inteligentes”, não cultivavam a relação pessoal com Deus, mas acreditavam que a salvação vinha do conhecimento e fiel cumprimento da Lei. Sentiam-se donos da verdade e autossuficientes.
Então Jesus faz o convite a ir ao seu e aceitar a sua proposta: “vinde a Mim”; “tomai sobre vós o meu jugo…” Para os fariseus, o jugo era a Lei e seria leve, a ser carregado com alegria. Na realidade, tratava-se de um “jugo” pesadíssimo. Era impossível, no dia a dia, cumprir os 613 mandamentos da Lei escrita e oral. Especialmente os pobres, eram incapazes de estar em dia a com a Lei. Assim sentiam-se condenados e malditos, afastados de Deus e indignos da salvação Isto criava consciências pesadas e atormentadas. A Lei aprisionava em lugar de libertar. Jesus veio libertar da escravidão da Lei. Os doentes, os pecadores, as mulheres, os simples, os excluídos todos experimentam a graça da inclusão e da salvação. Não por méritos pessoais, mas pelo dom do Reino de Deus, inaugurado por Jesus. É nessa nova dinâmica que eles encontrarão a alegria e a felicidade que a Lei não dá.
A proposta do “Reino” destina-se a todos os homens e mulheres, sem exceção… No entanto, são os pobres e excluídos, aqueles que não contam com socorro humano, que mais se abrem para acolher a proposta de Jesus. Os outros (os ricos, os poderosos) os que estão muito cheios de si, voltados para seus interesses, seus esquemas organizados, não costumam arriscar na novidade de Deus. A conclusão do texto é um verdadeiro tesouro, tanto para o tempo de Jesus quanto para nós hoje: “Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ