12º Domingo do Tempo Comum

20/06/2024

 “Ao cair da tarde…” Mc 4,35-41 – Convivemos diariamente com realidades que geram em nós ansiedade e medo: o terrorismo e a violência são uma constante ameaça; as diversas doenças geram angústia e sofrimento; as catástrofes naturais obrigam-nos a tomar consciência da nossa impotência diante das forças da natureza; as injustiças e arbitrariedades provocam revolta e descontentamento social; a mudança de paradigmas, morais, sociais e políticos nos deixam quase sem rumo. A Liturgia deste 12º domingo do Tempo Comum nos oferece luzes para nossa itinerância nestes tempos de trevas, neste “cair da tarde”, neste nosso barco em meio ao mar revolto. A primeira leitura, tirada do livro de Jó, mereceria uma reflexão a parte. Este clássico da literatura universal discute a questão do sofrimento do justo inocente, sua atitude diante de Deus e a atitude divina diante do sofrimento humano. Está relacionado com o Evangelho, que mostra as forças contrárias presentes na vida humana. O cenário é o mar da Galileia onde os discípulos sofrem uma repentina tempestade, retrato das comunidades cristãs que vivem a experiência de “tempestades”. O episódio que Marcos relata passa-se durante a travessia do “Mar da Galileia”. Na realidade, não é um “mar”, mas um lago de água doce, alimentado pelas águas do rio Jordão, com mais ou menos 12 quilómetros de largura e 21 de comprimento. As tempestades que se levantavam neste “mar” eram repentinas, causadas pelo cruzamento dos ventos do Mar Mediterrâneo com os do deserto e eram, muitas vezes, bem violentas. Para melhor compreender o relato de Marcos, convém ter presente que, na cultura judaica, o “Mar” continha forte simbolismo: era o lugar onde residiam os poderes caóticos, incontroláveis, dominados por poderes maléficos que queriam destruir a humanidade. Só Deus tinha o poder de pôr limites ao mar e libertar a humanidade deste caos. Pode-se perceber logo que o relato não é uma reportagem da viagem de Jesus com seus discípulos. Os elementos presentes mostram que se faz necessário ler por trás das palavras: o mar, o barco, a tempestade, a noite, o sono de Jesus tudo tem sentido simbólico. No tempo em que o Evangelho foi escrito, as comunidades cristãs sofriam “fortes tempestades”, com ventos que sopravam de fora e de dentro do barco: de fora vinha a perseguição de Nero que matou muitos cristãos; de dentro surgiam problemas causados por conflitos entre judeu-cristãos e pagão-cristãos; havia também tensões entre as lideranças das comunidades; ainda mais: não sabiam  viver a Boa Nova do Reino nas circunstâncias concretas. Jesus prometera voltar em breve, mas isto não aconteceu. Dorme na polpa do barco. Ao acordar, dá ordens ao vento e a mar, e estes o obedecem. Ele é o Messias esperado, ainda que os discípulos tenham dúvidas. Para orientar as comunidades de então, Marcos nos oferece esta bela narrativa e nos indica a forma de viver a fé e a adesão fiel a Jesus, mesmo que pareça ausente. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ