12º Domingo do Tempo Comum

16/06/2022

“E vós, quem dizeis que Eu sou?”-  Lc 9, 18-24  – Celebrando o 12º Domingo do Tempo Comum, a Liturgia retoma o Evangelho de Lucas, Ano C do ciclo litúrgico. A narrativa evangélica deste domingo tem como cenário a etapa final de Jesus na Galileia. Para uma melhor compreensão, consideremos que Lucas, (assim como Marcos), organiza literariamente o seu evangelho em três distintos cenários: a) Missão de Jesus na Galileia Lc 4,14 – 9,50; b) A caminho de Jerusalém Lc 9,51- 19,27; c)  Em Jerusalém  Lc 19,28 – 24,53.

Na narrativa deste domingo Jesus está na fase final da etapa da Galileia. Isto certamente constitui chave de Leitura deste relato. Em Lc 9,51 Jesus decide firmemente iniciar seu caminho para Jerusalém. O texto inicia dizendo que, “Jesus orava em certo lugar”. Os evangelistas Mateus e Marcos situam o lugar como sendo “Cesareia de Filipe” (cf Mt 16,13; Mc 8,27). Antes de se por a caminho para Jerusalém, onde vai concretizar a sua entrega de amor, Jesus convida os discípulos a confessarem sua fé acerca do que viram, ouviram e testemunharam. Estarão dispostos a seguir esse mesmo caminho de doação e de entrega da vida ao “Reino”?

Como vimos, a cena de hoje começa com a indicação da oração de Jesus (v. 18). Lucas põe Jesus a rezar antes de uma decisão importante (cf. Lc 5,16; 6,12; 9,28-29; etc). Depois de rezar, Jesus toma decisões importantes, certamente iluminada pelo Pai. Desta vez tem a ver com a revelação: “quem é Jesus”.

Eram muitas as imagens cultivadas pelo povo sobre o messias libertador, anunciado pelos profetas. Seria um chefe militar que expulsaria os romanos com a força das armas? Seria um descendente da monarquia davídica? Um rei forte e vencedor? Um mestre da Lei?  Jesus certamente não possuía o perfil esperado. Pelo seu modo de ser e agir, as multidões não consideravam Jesus como “o Messias”. No máximo, seria um líder como João Batista, Elias, ou algum antigo profeta redivivo.

Os discípulos, porém, deviam ter uma visão mais elaborada e amadurecida a respeito do Messias esperado. Dai a pergunta direta a eles: E vós, quem dizeis que Eu sou”? Pedro, que representa aqui a comunidade dos discípulos afirma: “Tu és o messias de Deus” (v.20). Dizer que Jesus é o “messias” significa reconhecer nele o “enviado” de Deus, o messias anunciado.

Jesus não discorda da afirmação de Pedro. Ele sabe, porém, que os discípulos sonhavam com um “messias” político, poderoso e vitorioso. Esclarece logo as coisas: “O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia”. Ele é o enviado de Deus para libertar a humanidade; mas não fará isto pelas armas ou outras formas de violência. Seu caminho é o amor, é o dom da sua vida (v. 22). No horizonte próximo não está um trono, mas uma cruz. Seu messianismo se dará em humilde serviço, em doação plena, em resgate da vida e dignidade dos pequenos, em perdão aos que o perseguem e matam.

O texto fecha com uma chave de ouro: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á” (vv. 23-24).

Quem quiser ir com Jesus, uma decisão livre, consciente e pessoal, precisa renunciar a si mesmo, ou seja, superar a autorreferencialidade, abandonar a centralidade do eu, tomar a cruz todos os dias e prosseguir no seguimento de Jesus, fazendo de sua vida um ato de compaixão e misericórdia.  Então os discípulos de ontem e de hoje saberão bem responder à pergunta: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”.  Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ