12° Domingo do Tempo Comum

22/06/2023

“Não temais”- Mt 10,26-33 – Continuamos no mesmo cenário do Evangelho do domingo passado, que tratou da compaixão de Jesus para com o povo “cansado e abatido, como ovelhas sem pastor”. Esta compaixão levou Jesus a chamar discípulos, ou seja, “operários” e enviá-los ao mundo, dando-lhes diversas instruções, conforme o “discurso da missão”, do Evangelho de Mateus (cf Mt  9,36 a 11,1). Neste domingo temos o texto de Mt 10, 26-33, que faz parte destas instruções da ação missionária.

Para melhor compreendermos estas instruções, convém considerar que o Evangelho de Mateus foi escrito em torno dos anos 80 dC, quando o Império Romano, sob o poder do imperador Domiciano, desencadeou uma perseguição contra os cristãos. A comunidade de Mateus, provavelmente situada em Antioquia, era de grande sensibilidade missionária. No entanto, os missionários conviviam, no dia a dia, com as dificuldades e as perseguições, o que gerava desânimo e frustração. Esta situação nos ajuda a compreender melhor até a insistência do evangelista em afirmar que Jesus é o “Emanuel”, o “Deus conosco”, que permanece com os seus até o fim dos tempos.

No texto deste domingo temos como chave de leitura a expressão “não temais”, que se repete por três vezes. De início, Jesus pede aos discípulos que não deixem o medo silenciar a proclamação do Evangelho. A Boa Nova deve ser proclamada com coragem, convicção, coerência, de cima dos telhados, a fim de chegar aos confins da terra. A seguir, Jesus recomenda aos discípulos que não tenham medo da morte física. A morte física não é a última palavra. Perder a possibilidade de chegar à vida plena, à vida definitiva é o grande perigo. O discípulo que procura percorrer com fidelidade o caminho de Jesus não precisa, portanto, viver angustiado pelo medo da morte. Ainda mais: Jesus convida os discípulos a colocarem confiança absoluta em Deus.

Duas imagens ilustram este convite à confiança: a dos pássaros que Deus cuida e a dos cabelos que Deus conta. Se Deus assim age para com coisas tão singelas, como não irá cuidar dos seus filhos?  Deus é aqui apresentado como um “Pai”, cheio de amor e de ternura, sempre preocupado em cuidar dos seus “filhos”, em entendê-los e em protegê-los. Logo, os discípulos não têm razão para ter medo.

A experiência de se sentir filho amado do Pai, de viver na intimidade divina, de descobrir o “rosto de misericórdia de nosso Deus”, afugenta todo e qualquer medo e alimenta a capacidade do discípulo de empenhar-se na missão. Nem as dificuldades, nem as perseguições, nem as incompreensões, conseguem calar o discípulo, a discípula que confia no cuidado e no amor de Deus Pai. O convite à confiança, à superação do medo, à entrega missionária generosa é a principal boa nova do Evangelho deste domingo. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ