10º Domingo do Tempo Comum – 06/06/2021

04/06/2021

O preço de uma opção – Mc 3,20-35 – Neste 10º domingo do Tempo Comum, do ano B, damos continuidade à leitura do Evangelho de Marcos. Estamos no terceiro capitulo, onde continuam os conflitos gerados pela Boa Nova do Reino,em confronto com os tantos “espiritos maus” registrados no   2º Evangelho.  Do ponto de vista literário, o Evangelho de Marcos é bem construido para ir revelando a identidade de Jesus, o “Filho de Deus” (Mc 1,1) e os opositores que o levarão à cruz.  Em Mc 3,6, após a secção inicial dos conflitos com as diversas instituições do mundo judaico (cf Mc 2,1-3,6), já estava decidido que Jesus seria levado à morte.

A narrativa deste domingo, inserida na grande secção do Evangelho (cf Mc 3,7–8,26), prossegue com cenários de conflitos, porém com grupos distintos. O primeiro grupo que se opõe é a “família” de Jesus, que O considera “fora de si” (cf. 3,20-21). Segue o grupo dos “escribas” que acusam Jesus de agir pelo poder de Belzebu (cf. 3,22-30). A conclusão do texto é a opção por uma nova família (cf 3,31-35). Nos três cenários se trata de reconhecer a identidade e a missão de Jesus, aceitar ou não o projeto do reinado de Deus.

O texto é elaborado em uma figura de linguagem, comum na cultura hebraica, denominada de “quiasmo”, no qual se estabelecem paralelos. Se bem observarmos, o texto inicia e se encerra com o assunto da “família”, formando um paralelo. No meio temos a grande controvérsia com os “anciãos” (vv. 22-30), sobre a origem do poder de Jesus para expulsar os demônios. Os escribas tentam passar a ideia de uma cumplicidade entre Jesus e o príncipe dos demônios, Belzebu (v. 22). Afirmam, inclusive, que “Jesus tem um espírito maligno” (v.30) e que expulsa os demônios por meio do demônio. O argumento de Jesus é de uma lógica sapiencial evidente: reino dividido não vence (vv. 26-27).

A controvérsia com os escribas termina com uma afirmação solene dos vv. 28-29. Diante de quem diz que Ele “tem um espírito maligno”, Jesus faz uma afirmação que já gerou muitos questionamentos e interpretações nos meios eclesiais: “todos os pecados e blasfêmias serão perdoados” (v. 28), “mas quem blasfemar contra o Espírito não obterá perdão” (v. 29). O que significa isto? Que pecado é este que não tem perdão? Jesus não é o Deus de infinita misericórdia? Pelo que se pode entender, os “pecados e blasfêmias contra o Espírito Santo” são a negação da verdadeira identidade divina de Jesus, atribuindo sua vida, suas obras, sua missão aos demônios. É mesmo uma blasfêmia. Trata-se de um modo de agir não muito diferente de tantas experiências vividas na Igreja, nas relações sociais e familiares. As atuais perseguições ao papa Francisco, conflitos de relacionamentos interpessoais, desavenças familiares, certamente são perpassadas por “atribuições demoníacas”, ou seja, se atribui ao demônio o que provém de motivação divina. Não faltam os “escribas” (opositores) de ontem e de hoje, para julgar diabolicamente.

No fim da narrativa, o tema da família volta à cena. Jesus, vivendo a rejeição da sua família, declara solenemente: “Eis minha Mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe” (v. 35). É sua nova família. Não mais vinculada por laços de sangue, mas pela atitude diante da “vontade de Deus”. Refunda-se a família, gera-se uma nova comunidade, vive-se o projeto do Pai, cria-se um mundo novo. Trata-se de uma opção de alto preço. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ