10º Domingo do Tempo Comum

04/06/2024

Fazer a vontade do Pai – Mc 3,20-35 – O 10º domingo do Tempo Comum nos traz mais um relato do Evangelho de Marcos, no qual vai se revelando sempre mais a identidade de Jesus, a realidade do Reino de Deus e o crescente conflito com seus opositores. Estamos na Galileia, cenário de toda a atividade inicial de Jesus. O Evangelho do domingo anterior terminara com a decisão de fariseus e herodianos de eliminar Jesus por não respeitar a lei do sábado. Os conflitos deste domingo são de uma intensidade ainda maior. Há um forte contraste entre a rejeição e a aceitação de Jesus. A multidão acorre sempre mais a Ele e as obras que realiza geram admiração e louvor. A sua família não o compreende e as lideranças religiosas levam ao confronto sempre maior. O nosso texto é um retrato desse confronto. O grupo dos doze apóstolos está com Ele (cf. 3,13-19) e há os que aceitam e “fazem a vontade do Pai” (3,33-35). Por outro lado temos a dificuldade da família de Jesus (cf. 3,21), dos escribas (cf. 3,22), seguido da rejeição dos habitantes de Nazaré (cf. 6,1-6). Olhemos o Evangelho mais de perto. Do ponto de vista literário, o texto foi escrito dentro da técnica literária de “moldura”, que os estudiosos chamam de “quiasmo”. No caso deste relato, o início e o fim do texto tratam da família de Jesus. É a “moldura” do texto. O inicio mostra a atitude da família de Jesus, de ir ao seu encontro por ter ouvido dizer que Ele “está fora de si”. A família volta ao cenário no final do relato, quando Jesus revela quem é sua família. No centro estão os diversos conflitos que giram em torno da identidade de Jesus e de sua missão. É o grande conteúdo do texto. A primeira controvérsia é com os escribas (vv. 22-30). A questão é a origem do poder de Jesus para expulsar os demônios. Eles têm certeza de que o poder de Jesus provém de sua familiaridade com o príncipe dos demônios: “É pelo chefe dos demônios que Ele expulsa os demônios”. Jesus questiona suas certezas: “Como pode Satanás expulsar Satanás?” A atitude de Jesus é a de levar seus opositores a pensarem e discernirem os fatos e não se deixar levar por seus esquemas mentais. Um Reino dividido não subsiste. As parábolas que seguem visam desmascarar esta falta de discernimento dos escribas, os mestres da Lei. Só sabem as leis de memória, mas são incapazes de reconhecer a verdadeira identidade de Jesus. Blasfemam contra a verdade… Segue uma afirmação de Jesus de uma extrema radicalidade: quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão. Muito já se investigou sobre esta afirmação, uma vez que os Evangelhos revelam que Deus é sempre perdão e misericórdia. Que pecado é este que não tem perdão? “Blasfemar contra o Espírito Santo” é a atitude de quem nega a verdadeira identidade divina de Jesus e atribui aos demônios o que é divino. Atribuir ao demônio as obras de Jesus, a realidade do Reino. Não se trata de um ato isolado, mas de uma opção de vida. Esta “blasfêmia” é imperdoável porque o pecador não se quer a redenção. Os opositores radicais de Jesus, pela sua atitude de vida e sua doutrina, blasfemam contra o Espírito Santo. Na parte final do texto volta a temática da família. Jesus mostra quem é realmente sua família. Não são os laços de sangue que constituem esta nova família, mas a disposição de fazer a “vontade de Deus”: “Eis minha Mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe”. Fazer a vontade de Deus constitui a verdadeira identidade de Jesus. Fazer a vontade de Deus é o que identifica o seguidor, a seguidora de Jesus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ