10° Domingo do Tempo Comum
“Prefiro a misericórdia” – Mt 9,9-13 – A Palavra de Deus deste 10º Domingo do Tempo Comum retoma a Liturgia do Ano A, no qual lemos o Evangelho segundo Mateus. Conforme os estudiosos, Mateus dirige seu Evangelho a uma comunidade composta de cristãos provindos, em sua maioria, do judaísmo. Isto faz com que este Evangelho tenha características bem próprias: cita muito o Antigo Testamento, usa imagens e recursos literários próprios do Judaísmo. A lei e os ritos de sacrifício no Templo eram a identidade do povo Judeu. A Boa Nova de Jesus segue por outros caminhos. Para Deus, o essencial não são os atos externos de culto ou o fiel cumprimento da Lei. O que caracteriza o novo povo é a adesão verdadeira e coerente ao seu chamamento, à sua proposta de salvação, que Jesus anuncia como “Reino de Deus”, ou “Reino do céu”, na linguagem de Mateus. O Profeta Oseias, na primeira Leitura, já se antecipou no tema: Cultos pomposos e longos nada significam. O que conta é o coração aberto ao amor de Deus, aberto à divina misericórdia. “Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores”.
O texto do Evangelho deste domingo (Mt 9,9-13) faz parte de uma longa secção na qual Mateus descreve Jesus anunciando o “Reino”, por meio de “palavras” e de “ações”. Essa secção vai de Mt 4,23 a 9,35. Inicia com o magnifico “sermão da montanha” (cf. Mt 5-7), no qual Jesus, por “palavras”, apresenta a nova “lei” e o programa do “Reino”. Em seguida o evangelista apresenta o anúncio do “Reino” através das “ações” de Jesus (cf. Mt 8-9). O nosso texto (cf. Mt 9,9-13) faz parte das “ações” de Jesus e trata-se de um convite ao seguimento de Jesus.
O relato apresenta dois episódios distintos. No primeiro temos o chamamento do publicano Mateus (v. 9); no segundo, a descrição de um banquete em casa do publicano Mateus e o relato da indignação dos fariseus (cf. vv 10-13). É bom lembrar que os publicanos eram considerados como gente desclassificada, impura, amaldiçoada por Deus e, portanto, completamente fora da salvação. Mateus é um “publicano”, ou seja, um reconhecido “pecador público” que, além de estar a serviço do opressor romano, teria a fama de explorar os pobres. Jesus este homem ao seu seguimento e cria uma situação insuportável para os fariseus que eram muito ciosos de sua santidade. Não só chama um publicano para o seu grupo de discípulos, como também aceita sentar-se à mesa com ele, estabelecendo assim laços de familiaridade, de fraternidade, de comunhão, algo impensável para um fariseu. O comportamento de Jesus é uma verdadeira provocação.
O chamamento de Mateus tem semelhanças com o de outros discípulos: Jesus chama pessoas que estão no trabalho (pescadores) e que deixam tudo e seguem a Jesus. São pessoas simples, que vivem uma vida normal, que trabalham, lutam, riem e choram. No chamado de Mateus há, porém, um diferencial: ele é um “cobrador de impostos”. Isto por si só, é uma profunda revelação das opções de Jesus e do projeto do Reino.
Na segunda parte do nosso texto (vv. 10-13), temos a relação conflituosa de Jesus com os fariseus. Além de convidar o publicano Mateus a integrar o seu grupo, aceitou sentar-Se à mesa com os publicanos e pecadores. Sentar-se à mesa com alguém significava estabelecer laços profundos, íntimos, familiares, com essa pessoa. É o símbolo mais apropriado do “Reino de Deus. Os fariseus preocupados com as Leis, os ritos, não entendem isto. Jesus recorda-lhes que “não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (v. 12); e cita a frase de Oseias que encontramos na primeira leitura: “prefiro a misericórdia ao sacrifício” (v. 13). Neste ano vocacional da Igreja do Brasil, sob o tema: VOCAÇÃO, graça e missão, este relato evangélico chega como um tesouro, que enriquece todo o sentido de uma vocação. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ